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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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grande chance de eles serem bani<strong>do</strong>s ao exílio ou ao isolamento. Um ser que busca<br />

freneticamente encontrar um espírito assim, a ponto de largar toda a sua vida e<br />

internar-se voluntariamente em um hospício, possivelmente poderia freqüentar<br />

instituições de isolamento e tratamento, na tentativa de encontrar aquilo que para a<br />

sociedade seria loucura, mas que pode ser a tão sonhada elevação espiritual não<br />

tolerada.<br />

E compreender completamente esse espírito significaria entrar em contato<br />

com o mun<strong>do</strong> que ele cria para si mesmo, para poder justificar a sua existência.<br />

Isso encanta o narra<strong>do</strong>r, fazen<strong>do</strong> com que esse sinta a necessidade de conhecê-lo,<br />

de explorá-lo, até, se possível, chegar a esgotá-lo. Para o narra<strong>do</strong>r, o espírito de<br />

Fileto é um <strong>do</strong>s mais eleva<strong>do</strong>s entre to<strong>do</strong>s os que já estiveram no mun<strong>do</strong>.<br />

Devo confessar, entretanto, que elle era sempre menos normal <strong>do</strong> que eu: creatura mais<br />

alta e mais fina, espirito extraordinario, immenso coração – portanto um amor tão<br />

generoso e tão humano, que parecia exceder á exuberancia <strong>do</strong> seu genio – Fileto chegava a<br />

obumbrar-me. Nunca se ha de saber no mun<strong>do</strong> como aquelle homem foi grande. (POMBO,<br />

1905, 17)<br />

Fileto é uma personagem que não consegue se realizar no mun<strong>do</strong> ao qual foi<br />

destina<strong>do</strong>. Não conseguia simplesmente reproduzir os padrões e a moral da<br />

sociedade burguesa na qual nasceu. Queria mais <strong>do</strong> que lhe era permiti<strong>do</strong> pela<br />

coletividade. Queria uma elevação <strong>do</strong> espírito e, para tanto, não conseguia se<br />

prender àquilo que era importante para to<strong>do</strong>s que o cercavam. Não se prendia à<br />

materialidade, negan<strong>do</strong> o dinheiro, os luxos e os prazeres materiais permiti<strong>do</strong>s pela<br />

sua condição de vida. E, em oposição a isso, buscava aprimorar a sua forma de ver<br />

o mun<strong>do</strong>, desejan<strong>do</strong> somente o contato com outros espíritos eleva<strong>do</strong>s. Entretanto,<br />

essa forma de ver o mun<strong>do</strong> não vinculada à uma construção coletiva entra em<br />

choque com a possibilidade de inserção social e a sua aceitação pelos outros.<br />

Fileto é apresenta<strong>do</strong> pelo narra<strong>do</strong>r, no início <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, como um ser<br />

autônomo, praticamente auto-suficiente, cujo objetivo da vida é a construção de<br />

um mun<strong>do</strong> próprio que justifique a sua existência. A vida que ele busca não<br />

depende de lugares, mas de encontros com aquilo que por ele possa ser<br />

considera<strong>do</strong> como semelhante. Nesse caso, quan<strong>do</strong> o pai de Fileto tenta exilar o<br />

filho no interior <strong>do</strong> país, lá sofre de solidão, não em relação à outras pessoas (pois<br />

está em harmonia com o ambiente), mas pela falta de seres espiritualmente<br />

eleva<strong>do</strong>s o suficiente para com quem ele possa conviver. Quan<strong>do</strong> volta de Minas,

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