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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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A defesa de uma arte renovada em relação tanto à uma tradição ocidental de<br />

origem antiga, ligada aos clássicos greco-romanos quanto a arte de origem burguesa<br />

está no foco central da proposta simbolista desenvolvida durante a segunda metade <strong>do</strong><br />

século XIX e que tem com Baudelarie o seu primeiro nome. De forma geral, a arte desse<br />

perío<strong>do</strong> estava marcada pelas idéias positivistas, que culminaram em uma arte<br />

naturalista de caráter objetivista. A estética que Baudelaire iniciou na França segue<br />

outro rumo: a subjetividade cria um espaço vago, difuso, que não busca clarear o mun<strong>do</strong><br />

pela tentativa de explicá-lo objetivamente ao outro. Busca muito mais a sugestão <strong>do</strong> que<br />

a explicação. É a busca de uma nova consciência artística que não tem mais como<br />

parâmetro o mun<strong>do</strong> que a cerca, mas o sujeito que a cria.<br />

Em No hospício, o narra<strong>do</strong>r vive esse mun<strong>do</strong>, cuja finalidade não é de<br />

explicar o mun<strong>do</strong>, mas de justificá-lo. A justificativa da vida para o Simbolismo é<br />

a arte. Somente pela arte o mun<strong>do</strong> faz algum senti<strong>do</strong> para o indivíduo que<br />

consegue desenvolver a capacidade de compreender-se construtor da realidade. O<br />

que o Simbolismo busca é a elevação <strong>do</strong> espírito para que o homem possa chegar a<br />

compreender o mun<strong>do</strong> que o cerca. Desse con<strong>texto</strong>, a incomunicabilidade entre os<br />

seres emerge construin<strong>do</strong> uma barreira para a possibilidade de diálogo. Entretanto,<br />

como não se busca explicar nada, mas sugerir, a sugestão pode transmitir as<br />

sensações que se está queren<strong>do</strong> passar, mas que não podem ser nomeadas. E seres<br />

com espíritos eleva<strong>do</strong>s são capazes de decifrar as sugestões. O narra<strong>do</strong>r de No<br />

hospício está em busca de um espírito eleva<strong>do</strong> que seja capaz de compreender as<br />

correspondências.<br />

No primeiro capítulo, abor<strong>do</strong>u-se esse deslocamento de um ser, que sai <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> social e se insere em uma outra esfera, na qual eram permiti<strong>do</strong>s a elevação<br />

espiritual e o cultivo de mun<strong>do</strong>s próprios: o narra<strong>do</strong>r se desloca para dentro de um<br />

hospício. A visualização da possibilidade de rompimento desse isolamento em que<br />

as almas se encontram no mun<strong>do</strong> faz com que o narra<strong>do</strong>r disponha de sua liberdade<br />

para ter acesso a um outro ser que apresenta um espírito eleva<strong>do</strong> o suficiente que<br />

seria capaz de interagir em um patamar muito superior ao da<strong>do</strong> pela sociedade.<br />

Toda a imagem construída em No hospício reflete essa tentativa de rompimento da<br />

incomunicabilidade. Ao mesmo tempo em que o mun<strong>do</strong> se separa <strong>do</strong>s seres que<br />

nele habitam, por não se mostrar claramente, é através das sensações que esses<br />

seres conseguem perceber essa realidade. Nada, nem tempo, nem espaço são<br />

descritos de forma objetiva dentro <strong>do</strong> romance. O tempo, enquanto a personagem

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