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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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manutenção da ordem pela perda das identidades pessoais. A vida artística nega<br />

aquilo que é um <strong>do</strong>s maiores produtos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno burguês: a multidão.<br />

As diversas retomadas que Rocha Pombo faz em seu livro da filosofia<br />

nietzschiana são feitas porque essa filosofia está bem afinada com as propostas<br />

simbolistas em diversos pontos, como a impossibilidade de construção de uma<br />

moral coletiva, a necessidade de busca individual da compreensão da realidade, a<br />

impossibilidade de transmissão de idéias para os outros a não ser mediante a<br />

supressão da individualidade <strong>do</strong> outro. Entretanto, enquanto realização estética, a<br />

proposta simbolista é a de construir uma arte nova, enquanto que a proposta<br />

nietzschiana é a de construir um novo homem. Para Nietzsche, o homem é que<br />

deveria ser a sua própria obra de arte.<br />

A grande separação entre a filosofia nietzschiana e a estética simbolista,<br />

apresentada, inclusive, dentro <strong>do</strong> romance, repousa sobre qual o objeto a ser<br />

produzi<strong>do</strong>. Os simbolistas estão preocupa<strong>do</strong>s em elaborar obras de arte a partir de<br />

suas capacidades de construção de realidades. Em contrapartida, para Nietzsche<br />

existe a necessidade que faz com que o homem perceba a sua posição determinante<br />

em relação a to<strong>do</strong> um jogo de forças (não por ser homem, mas por tornar-se<br />

consciente <strong>do</strong> desejo de poder) e, uma vez compreendi<strong>do</strong> quais são as regras que<br />

regem o jogo, o homem é capaz de superá-las, construin<strong>do</strong>, assim, o jogo para si<br />

mesmo. Uma vida artística seria construída não enquanto a consolidação de uma<br />

estética, mas da aplicação para si mesmo <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> artístico.<br />

O além-<strong>do</strong>-homem seria o resulta<strong>do</strong> de sua própria visão sobre a realidade.<br />

O mun<strong>do</strong> não estaria sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> para que faça senti<strong>do</strong>, mesmo que de forma<br />

individual. A observação se faz necessária para a consolidação das regras para que<br />

a própria existência humana faça senti<strong>do</strong>, sem, necessariamente, criar um senti<strong>do</strong><br />

para o mun<strong>do</strong>. Uma vez definida a força <strong>do</strong> ser, ele deverá ser capaz de se sobrepor<br />

sobre todas as outras existências com as quais trava contato. De acor<strong>do</strong> com<br />

Nietzsche, seria necessário que o além-<strong>do</strong>-homem não se isolasse <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mas<br />

que nele se inserisse e conseguisse vencê-lo, dizen<strong>do</strong> um incessante “sim” para a<br />

vida.<br />

É nesse ponto a principal questão de discordância entre as idéias presentes<br />

no romance No hospício e a filosofia nietzschiana, como apontadas no terceiro<br />

capítulo. No romance de Rocha Pombo duas questões abrem-se em relação a esse<br />

distanciamento com Nietzsche. Em primeiro lugar, a construção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, em

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