texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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transformar essa postura de “deus sanguinário” que Fileto apresentava. Sua<br />
percepção de arte define-se enquanto objeto artístico realiza<strong>do</strong>. Músicas, livros, em<br />
suma, objetos de arte que possam estar no mun<strong>do</strong>. A personagem não trabalha a si<br />
mesmo enquanto uma obra de arte, mas ela é um veículo para a produção da arte.<br />
A força que o narra<strong>do</strong>r reconhece desde o início em Fileto, força capaz de<br />
criar e destruir mun<strong>do</strong>s, ou, em outras palavras, capaz de produzir arte, lhe causa a<br />
sensação de entusiasmo e de me<strong>do</strong> que sente em relação a essa personagem.<br />
Entusiasmo pelo fato de acreditar que finalmente a sua busca por um grande<br />
espírito pode estar chegan<strong>do</strong> ao seu final. E me<strong>do</strong> por existir a possibilidade de<br />
Fileto ter eleva<strong>do</strong> o seu espírito até alturas que o narra<strong>do</strong>r não seja capaz de<br />
alcançar.<br />
Para alcançar alturas elevadas como as que o narra<strong>do</strong>r reconhece em Fileto,<br />
há a necessidade de rompimento com o mun<strong>do</strong> material e, conseqüentemente com<br />
as suas regras e dinâmicas. Como já foi dito, o narra<strong>do</strong>r se movimenta muito bem<br />
pelo mun<strong>do</strong> material, conhecen<strong>do</strong>-lhe as suas leis e saben<strong>do</strong> fazer uso delas, a tal<br />
ponto que é capaz de movimentar-se livremente por ele, construin<strong>do</strong> o seu mun<strong>do</strong><br />
dentro desse mun<strong>do</strong> material. Entretanto, se tivesse de sair para ir a um mun<strong>do</strong><br />
mais eleva<strong>do</strong>, cujas regras não são as mesmas, ele poderia ter problemas para<br />
realizar os seus intuitos. Mas, mesmo assim, busca encontrar esses outros mun<strong>do</strong>s<br />
que não podem ser olha<strong>do</strong>s de forma clara pelo narra<strong>do</strong>r, uma vez que foram<br />
cria<strong>do</strong>s por outras personagens e, da<strong>do</strong> à impossibilidade de comunicação completa<br />
entre os seres, o narra<strong>do</strong>r possivelmente teria problemas para conseguir<br />
familiarizar-se com esses estranhos mun<strong>do</strong>s construí<strong>do</strong>s por outros. Então, para<br />
produzir a possibilidade de diálogo nas alturas (espirituais), o narra<strong>do</strong>r força a<br />
decida de Fileto até onde é possível a comunicação <strong>do</strong>s espíritos, em um nível não<br />
tão eleva<strong>do</strong> até onde um espírito pode chegar, mas muito mais alto <strong>do</strong> que o a<br />
moral coletiva se estrutura.<br />
Neste ponto, eu me senti como que accordar, e disse:<br />
⎯ Antes não prosiga... Tenho me<strong>do</strong> das alturas... da vertigem das alturas... A<br />
finalidade absoluta, meu caro, me espanta... (POMBO, 1905, 71)<br />
⎯ Mas, deixemos agora estes themas tristes... Aquelle animal, hontem, nos impediu umas<br />
expansões, cuja represa me fez mal. Aquellas suas palavras me abalaram devéras. O<br />
senhor me levou para muito alto e eu senti a vertigem <strong>do</strong>s abysmos. Realmente, a