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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Em No hospício, de Rocha Pombo, publica<strong>do</strong> em 1905, essa aproximação entre<br />

mun<strong>do</strong> e beleza ocorre por parte tanto de Fileto como <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r. Fileto busca a<br />

constrituição de uma vida artística. A sua forma de ver o mun<strong>do</strong> está dada por uma<br />

visão pessoal da realidade. Tu<strong>do</strong> o que ocorre ao re<strong>do</strong>r de Fileto é, para ele, uma prova<br />

da possibilidade de compreender o mun<strong>do</strong>, compreensão essa que só é dada a ele e a<br />

mais ninguém. Fileto fica muito próximo <strong>do</strong> ideal de poeta defini<strong>do</strong> por Baudelaire,<br />

uma vez que sente horror pela multidão, geran<strong>do</strong>, inclusive uma reação de repugnância<br />

contra a maioria <strong>do</strong>s que se encontram <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora <strong>do</strong> hospício.<br />

Diferentemente <strong>do</strong> que está coloca<strong>do</strong> no romance Às avessas, de Huysmans, o<br />

narra<strong>do</strong>r de Rocha Pombo é cria<strong>do</strong> em primeira pessoa. O narra<strong>do</strong>r que conta a história<br />

de des Esseintes é externo.<br />

Em No hospício, o narra<strong>do</strong>r conta a sua própria história, cheia de ambigüidades<br />

causadas pela buca de rompimento com a certeza objetiva que era dada, por exemplo,<br />

para as palavras <strong>do</strong>s escritores naturalistas e realistas. Rocha Pombo, ao estruturar a sua<br />

obra, busca a vaguidão. Porém, mesmo possuin<strong>do</strong> uma estrutura que encaixa-se<br />

perfeitamente para um romance simbolista, No hospício encerra uma outra ambigüidade<br />

em seu narra<strong>do</strong>r. Da mesma forma que o Simbolismo, no Brasil, não ocorreu com a<br />

mesma pureza (que foi sua marca na França), misturan<strong>do</strong>-se profundamente com o<br />

Parnasianismo e outras correntes estéticas, como o Impressionismo, o narra<strong>do</strong>r não<br />

trabalha somente dentro da estética simbolista.<br />

É inegável a fuga <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> para dentro de uma torre de marfim representada<br />

pelo hospício onde convivem Fileto e o narra<strong>do</strong>r, mas esse isolamento não faz com que<br />

o narra<strong>do</strong>r perca a sua ligação com o mun<strong>do</strong> exterior. Ele conhece a realidade social <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e sabe como trabalhar com ela. O narra<strong>do</strong>r não busca uma fuga <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mas<br />

uma possibilidade de entrar em contato com o espírito de Fileto. Mais <strong>do</strong> que isso. O<br />

narra<strong>do</strong>r pretende, no decorrer <strong>do</strong> livro, convencer Fileto da necessidade de mudar o<br />

panorama social, para a construção de um mun<strong>do</strong> mais justo. O trabalho com as idéias<br />

de justo e injusto é marcadamente de caráter social e moral. O narra<strong>do</strong>r não se omite em<br />

relação às desigualdades. O narra<strong>do</strong>r traz em si essa marca <strong>do</strong> social. Da mesma forma<br />

que o Simbolismo brasileiro não se diferencia completamente <strong>do</strong> Parnasianismo e, em<br />

alguns casos até mesmo <strong>do</strong> Naturalismo e Realismo, o romance de Rocha Pombo<br />

trabalha com essas questões. A apropriação de questionamentos típicos de outras<br />

tendências estéticas para dentro de um romance simbolista permite que se constitua uma

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