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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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senti<strong>do</strong> sem Jesus. Não porque ele realiza o ideal divino na Terra, mas porque ele é o<br />

espírito mais eleva<strong>do</strong> que já existiu e, como tanto o narra<strong>do</strong>r quanto o interno sabem-se<br />

espíritos eleva<strong>do</strong>s, a sua aproximação (mesmo que não física) com esse espírito deve ser<br />

necessária e é ela que justifica a existência, pois o objetivo de se estar no mun<strong>do</strong> é o<br />

reconhecimento de espíritos eleva<strong>do</strong>s.<br />

O conto que o narra<strong>do</strong>r envia para Fileto (ANEXO 01), A alma <strong>do</strong> príncipe, é<br />

um relato típico da situação em que se encontra o espírito eleva<strong>do</strong> que conseguiu<br />

construir um mun<strong>do</strong> para si e que, pela força que esse ganha dentro da alma de quem o<br />

fez, não há possibilidade de retornar a uma moral coletiva. Encontrar esse mun<strong>do</strong> por si<br />

mesmo, ainda que não compreendi<strong>do</strong> pelos demais, é o objetivo <strong>do</strong>s espíritos eleva<strong>do</strong>s.<br />

A analogia entre o príncipe Tientsin e Fileto é feita de maneira direta, inclusive pelas<br />

próprias palavras de Fileto que se reconhece no conto.<br />

Marcan<strong>do</strong> a folha em que se acha aquelle conto A alma <strong>do</strong> príncipe, estava uma fita de<br />

papel muito aspero, onde consegui decifrar estas palavras a lapis azul, quasi apagadas: Eu<br />

vou pela vida como um Tientsin... e não tenho um Siong que me comprehenda... (POMBO,<br />

1905, 45-46)<br />

Porém, a imagem mais interessante dessa história dentro da história não é a<br />

analogia entre a personagem <strong>do</strong> conto <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r e a personagem que atua no romance.<br />

É a impossibilidade reconhecida por Fileto de, naquele momento, encontrar alguém que<br />

possa compreender a necessidade de se colocar fora da moralidade. Siong, o velho<br />

patriarca que desce da montanha para ver o que está acontecen<strong>do</strong> com o príncipe, é<br />

capaz de reconhecer a necessidade de o príncipe colocar-se fora da coletividade, pois o<br />

mun<strong>do</strong> da felicidade não pode ser encontra<strong>do</strong> coletivamente, mas somente<br />

individualmente. O que Siong consegue reconhecer é a possibilidade da existência<br />

subjetiva sobrepon<strong>do</strong>-se sobre a visão objetiva <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. E que, uma vez fora da<br />

moral, nada mais resta ao ser senão contemplar o mun<strong>do</strong> que criou e esperar a sua morte<br />

no mun<strong>do</strong> objetivo que não é o seu. Mas que esse seu afastamento <strong>do</strong>s demais seres que<br />

habitam esse mun<strong>do</strong> não representa sofrimento, mas realização.<br />

Fileto sente-se exatamente como o príncipe, mas, nesse primeiro momento, não<br />

há ninguém para ele que faça o papel de Siong. E, pelas palavras que o narra<strong>do</strong>r diz<br />

estarem transcritas no canto <strong>do</strong> conto, existe a vontade de Fileto de encontrar um Siong<br />

para si. O reconhecer-se em uma obra literária, que, nas primeiras apresentações das<br />

idéias de Fileto pelo narra<strong>do</strong>r é ti<strong>do</strong> como algo impossível – uma vez que o mun<strong>do</strong> só

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