texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Esta é a terra morta<br />
Esta é a terra <strong>do</strong> cacto<br />
Aqui as imagens de pedra<br />
Estão eretas, aqui elas recebem<br />
A súplica da mão de um morto<br />
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.<br />
E nisto consiste<br />
O outro reino da morte:<br />
Despertan<strong>do</strong> sozinhos<br />
À hora em que estamos<br />
Trêmulos de ternura<br />
Os lábios que beijariam<br />
Rezam a pedras quebradas.<br />
(T. S. Eliot – Os homens ocos)<br />
Quan<strong>do</strong> o procura<strong>do</strong>r se sentou, houve uns longos momentos de silêncio. Quanto<br />
a mim, sentia-me ator<strong>do</strong>a<strong>do</strong> pelo calor e pelo espanto. O presidente tossiu um<br />
pouco e, ima voz não muito alta, perguntou-me se eu queria acrescentar alguma<br />
coisa. Levantei-me e, como tinha vontade de falar, disse, aliás um pouco ao<br />
acaso, que não tinha ti<strong>do</strong> intenção de matar o árabe. O presidente respondeu que<br />
isto era uma afirmação; que até então não percebera lá muito bem o meu sistema<br />
de defesa e que gostaria, antes de ouvir o meu advoga<strong>do</strong>, que eu especificasse os<br />
motivos que inspiraram o meu ato. Respondi rapidamente, misturan<strong>do</strong> um pouco<br />
as palavras e consciente <strong>do</strong> ridículo, que fora por causa <strong>do</strong> sol. Houve risos na<br />
sala. O meu advoga<strong>do</strong> encolheu os ombros e, logo a seguir, deram-lhe a palavra.<br />
Mas ele declarou que era tarde, que precisava de muito tempo e que pedia o<br />
adiamento até depois <strong>do</strong> almoço. O tribunal concor<strong>do</strong>u.<br />
(Camus – O estrangeiro)<br />
Todas as palavras sobretu<strong>do</strong> os barbarismos universais<br />
Todas as construções sobretu<strong>do</strong> as sintaxes de exceção<br />
To<strong>do</strong>s os ritmos sobretu<strong>do</strong> os inumeráveis<br />
(...)<br />
Quero antes o lirismo <strong>do</strong>s loucos<br />
O lirismo <strong>do</strong>s bêba<strong>do</strong>s<br />
O lirismo difícil e pungente <strong>do</strong>s bêba<strong>do</strong>s<br />
O lirismo <strong>do</strong>s clows de Shakespeare<br />
— Não quero mais saber <strong>do</strong> lirismo que não é libertação.<br />
(Manuel Bandeira – Poética)<br />
iv