01.06.2013 Views

texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Fôra eu pintor e procuraria fixar nas minhas telas esta grande noção. Daria: – ergui<strong>do</strong> à<br />

vista de um trigal enloireci<strong>do</strong> o camponio ufano da sua coragem, de alvião ao hombro.<br />

Daria: – na profundeza de um subterraneo, transfigura<strong>do</strong> à luz da lampada sinistra, o<br />

mineiro, augusto na sua resignação soberana. Daria: – o marinheiro exalça<strong>do</strong> ante o<br />

mar; uma imagem de mã (sic) acarician<strong>do</strong> o seu filho; um ancião abençoan<strong>do</strong> a sua<br />

prole. Daria: – Colombo à vista <strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong>; Magalhães vencen<strong>do</strong> a voragem <strong>do</strong>s<br />

mares e a grandeza da terra; Balboa, no alto de um monte, na America Central, de<br />

braços ergui<strong>do</strong>s, a contemplar estatela<strong>do</strong> o Grande Oceano. Daria to<strong>do</strong>s os heroismos<br />

pacificos: a irmã de caridade, o medico, o mestre, o artista, o apostolo, o propheta, o<br />

sabio, to<strong>do</strong>s os representantes das funcções sagradas da vida. Daria uma creança fitan<strong>do</strong><br />

um cimo de montanha; um humilde protestan<strong>do</strong> contra o seu berço e redimin<strong>do</strong> o seu<br />

tumulo. Poria palmeiras em to<strong>do</strong>s os meus parques e junto de cada palmeira uma alma,<br />

aprenden<strong>do</strong> a exalçar-se para a luz!<br />

GILDA. – Junto <strong>do</strong> altar, no coração da floresta, em torno <strong>do</strong> cedro erecto e<br />

pomposo, ouvimos esta oração, partida como de peito invisivel: “Senhor! minha alma<br />

soffre esta agonia desde aquella tarde. Tinhamos chega<strong>do</strong> ao extremo <strong>do</strong> Occidente e eu<br />

jà tinha impressa na alma a nostalgia solenne <strong>do</strong> deserto. Depois, o ceu da Bretanha<br />

estampou-se aqui, e as praias <strong>do</strong> mar deram a meus olhos esta expressão de desalento e<br />

de sonho incomprehendi<strong>do</strong>. O suspiro ficou-me no peito como queixa sentida da minha<br />

miseria contra o tempo. Mas, senhor!... não foi a floresta, nem foram as praias, nem foi<br />

o céu da Bretanha que me fizeram <strong>do</strong>lorosa...” E a druidisa Gilda, fanada como um lirio,<br />

enrubecen<strong>do</strong>, suspirou e morreu. – Á tarde, um prestito immenso inseria-se pela floresta<br />

silenciosamente, e chegava a um recesso ermo e sombrio, no cimo de alterosa<br />

montanha, de onde se desvenda, para um la<strong>do</strong>, as costas, e para outro, a amplidão escura<br />

das Gallias. Ali começam as ceremonias. E no meio das ceremonias, Blan<strong>do</strong>, druida<br />

palli<strong>do</strong> e consumi<strong>do</strong>, de olhar amoroso e luci<strong>do</strong>, suicida-se junto ao cadaver de Gilda.<br />

Os sacer<strong>do</strong>tes, tolhi<strong>do</strong>s de pasmo, entreolham-se mu<strong>do</strong>s, fitan<strong>do</strong> em seguida o céu da<br />

Bretanha que se arqueava, impassivel e torvo, sobre aquelle mysterio...<br />

NAS CATACUMBAS. – Estamos na região onde as almas gelam. Tu<strong>do</strong> é insondavel<br />

como a noite <strong>do</strong> deserto. Só ecoam sob as abobadas escuras os nossos passos errantes.<br />

Um grande silencio de solidão enche as naves immensas. Num vasto recinto paramos.<br />

Ha em torno de nós um vago luar de praia desolada. Nossas almas entendem-se por

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!