texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Eis que sinto meus pés sobre alguma coisa que parecia esboroar-se. Olhei para baixo e<br />
com algum esforço distingo o Himalaya. Eu tinha desloca<strong>do</strong> com o meu pé o pico <strong>do</strong><br />
Everest e este tinha i<strong>do</strong> parar quase em cima das Philippinas. – Fizemos em seguida<br />
uma infinidade de voltas em torno <strong>do</strong> globo, e o anjo me disse que me dèra essa<br />
massada para me fazer uma sensação deliciosa – a sensação de um dia eterno, pois nós<br />
acompanhamos o sol. Realmente, eu só tinha noite quan<strong>do</strong> queria. Tambem si quizesse,<br />
teria noite sem fim. – Estavamos afinal descansan<strong>do</strong> no Sahara, num oasis magnifico,<br />
quan<strong>do</strong> começo a sentir umas cocegas e umas alfinetadas por to<strong>do</strong> o corpo<br />
eprincipalmente (sic) na cabeça. Ven<strong>do</strong>-me incommoda<strong>do</strong>, o anjo foi desemmaranhan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s meus cabellos e das minhas roupas enxames de immundicies. Eu estava quasi<br />
envergonha<strong>do</strong>. Puz-me a examinar muito attentamente os parazitas. Eram uns<br />
animalculos bem esquisitos e de varias especiese (sic) tamanhos. Esmaguei alguns entre<br />
os de<strong>do</strong>s e vi que muitos emittiam uma ponta, como tromba... e então é que me recordei:<br />
eram elephantes, giboias, crocodillos, tigres e leões, pantheras, hippopotamos etc. etc.,<br />
que se tinham emmaranha<strong>do</strong> nos meus cabellos, subin<strong>do</strong> pelas pernas, suppon<strong>do</strong>-as<br />
talvez uma continuaçõa da terra; immediatamente cuidei de banhar-me e procurei o<br />
oceano. Mas o anjo me observou que si eu queria poupar uma inundação da Africa e da<br />
America, que não mergulhasse no Atlantico sinão muito para o sul. Julguei de mau<br />
gosto, anti-artistico fazer mal aos bandi<strong>do</strong>s que habitam os <strong>do</strong>is continentes e fui aos<br />
mares antarcticos. Parece que foi peior: o meu calor produziu a fusão de grandes massas<br />
de gelos polares e o oceano sempre cresceu invadin<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is littoraes oppostos. Até a<br />
Europa e a America <strong>do</strong> Norte soffreram um pouco. – Sentin<strong>do</strong>-me conforta<strong>do</strong> e bem<br />
disposto, fomos flanar pelo pequeno mun<strong>do</strong> emquanto não chegava a hora de partir para<br />
além. Deu-me o anjo um microscopio para que eu pudesse apreciar até as minimas<br />
coisas da terra, taes como: os continentes, as grandes ilhas, as montanhas mais elevadas,<br />
os lagos mais vastos, etc. De subito, desvio o pé direito de uma pequena mancha escura<br />
que se mexia. Era a Inglaterra – deisse-me o anjo. – A Inglaterra!? – “É exacto... Está<br />
toda em festas... destas á rainha, com certeza...” Abaixei-me o mais que pude para ver a<br />
Inglaterra. E esta! Eu que ia pisan<strong>do</strong> naquillo! E eu que, sem saber, ia livran<strong>do</strong> aquelle<br />
cumulo de avarezas <strong>do</strong> inevitavel castigo da fome futura... E dizer-se, ia eu pensan<strong>do</strong>,<br />
que naquelle pedaço de lama ha palacios e cidades e multiltões (sic) e reis e exercitos e<br />
heróes!... Que ha por ali opulenciás e magestades... Quem acreditaria si não soubesse...<br />
– “Cuida<strong>do</strong>! cuida<strong>do</strong>! – gritou o anjo: ias cuspin<strong>do</strong> na cidade de Londres... Parece que<br />
estás mal intensiona<strong>do</strong> com o maior povo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>...” Desandei numa gragalhada