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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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produzida é fruto de reprodução de modelos morais pré-existentes ao artista 24 . Ele<br />

não cria nada, apenas reproduz 25 .<br />

A arte, enquanto instrumento de superação 26 , é mais eficaz <strong>do</strong> que a ciência,<br />

a religião, ou os sentimentos nacionais, segun<strong>do</strong> Nietzsche, pois ela traz em si algo<br />

que essas outras abordagens da vida não trazem: a certeza de que ela não é<br />

verdade. De que ela é uma não-verdade. “A arte é mais ‘veraz’, porque não ‘quer’<br />

ser verdadeira. Admite-se como ilusão” (PERRUSI In LINS, 2001, 173). E isso a<br />

torna mais verdadeira, uma vez que não se quer verdadeira, sen<strong>do</strong>, então, uma<br />

criação pessoal. Desta forma, ela não possui forma de expressar uma verdade<br />

universal. Deve estar dizen<strong>do</strong> coisas, realmente, somente a quem a produz ou a<br />

reelabora enquanto uma possibilidade própria. Mas, é necessário deixar bem clara<br />

uma sutileza dessa abordagem: não é a mera visão interior que importa. A arte<br />

precisa ser fiel ao mun<strong>do</strong> 27 . Ela precisa, necessariamente, ser uma arte da vida e<br />

não uma fuga da realidade. Desta forma, a arte é sempre ética em Nietzsche, e é<br />

vista como um dizer “sim” a si mesmo. Ela deve ser ética pelo fato de não estar<br />

presa a “verdades” exteriores 28 , criadas por outros, preocupa<strong>do</strong>s em justificar o<br />

mun<strong>do</strong> e a vida e, desta forma, menti<strong>do</strong> para si mesmo 29 . Não se deve, a partir de<br />

24 “Os juízos de valor sobre a vida, a favor ou contra, não podem, em definitivo, ser<br />

verdadeiros nunca”. (NIETZSCHE, F. Crepúsculo <strong>do</strong>s í<strong>do</strong>los. Trad. Delfim Santos F.º.<br />

Lisboa: Guimarães Editora, 1985. 26.)<br />

25 “Eu desconfio de to<strong>do</strong>s os sistemáticos e afasto-me <strong>do</strong> seu caminho. A vontade de sistema é<br />

uma falta de honestidade.” (NIETZSCHE, F. Crepúsculo <strong>do</strong>s í<strong>do</strong>los. Trad. Delfim Santos F.º.<br />

Lisboa: Guimarães Editora, 1985. 21.)<br />

26 Pensamos a arte, aqui, como aquela forma particular de ver o mun<strong>do</strong>, sem a preocupação de<br />

transmitir ao receptor dessa arte o senti<strong>do</strong> da vida, mas a experiência. A arte enquanto a<br />

possibilidade de destruição <strong>do</strong>s padrões. Enquanto produto, veremos essa arte de forma<br />

corrente durante o século XX, mas esse perío<strong>do</strong> já está além <strong>do</strong> que propomos trabalhar aqui.<br />

27 “Se alguma coisa compreen<strong>do</strong> deste simbolista [Cristo] é o facto de só ter toma<strong>do</strong> como<br />

realidades, como ‘verdades’, realidades interiores — que o resto, tu<strong>do</strong> o que é natural,<br />

temporal, espacial, histórico, só o considerava como sinais, como pre<strong>texto</strong>s para parábolas.”<br />

(NIETZSCHE, F. O anticristo. Trad. Pedro Delfim Pinto <strong>do</strong>s Santos. Lisboa: Guimarães<br />

Editora, 1997. 66.)<br />

28 “Não passa de um preconceito moral que a verdade tenha mais valor que a aparência; (...)<br />

pois o que nos obriga a supor que há uma oposição essencial entre ‘verdadeiro’ e ‘falso’? (...)<br />

Por que não poderia o mun<strong>do</strong> que nos concerne ser uma ficção?” (NIETZSCHE, F. Além<br />

<strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal – prelúdio a uma filosofia <strong>do</strong> futuro. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2000. 41.)<br />

29 “O que outrora não era senão <strong>do</strong>ença, é hoje inconveniência — nos nossos dias é indecoroso<br />

ser cristão. E aqui está onde começa a minha náusea. — Olho à minha volta: não resta uma só<br />

palavra daquilo a que noutro tempo se chamava ‘verdade’, já não suportamos que a palavra<br />

‘verdade’ seja pronunciada por um sacer<strong>do</strong>te, ainda que o seja na ponta <strong>do</strong>s lábios. Mesmo<br />

com as mais modestas exigências de equidade, é necessário que se saiba que hoje um teólogo,<br />

um sacer<strong>do</strong>te, um Papa, a cada frase que pronunciam não se enganam apenas, mas mentem —

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