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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Nietzsche revê toda a sua obra, escreven<strong>do</strong> novos prefácios críticos para seus livros<br />

anteriores. O questionamento da moral enquanto construção humana e a necessidade de<br />

superação <strong>do</strong> estágio atual da humanidade são marcas desse último perío<strong>do</strong> de<br />

produção. Assim, nesse momento, também ocorre uma revalorização da necessidade de<br />

arte enquanto agente de superação. Mas não a arte enquanto produção de objetos, mas<br />

enquanto produção de uma visão de mun<strong>do</strong> particular que faz com que tanto o próprio<br />

mun<strong>do</strong> como o próprio ser seriam os resulta<strong>do</strong>s de sua atuação estética.<br />

Nesse caminhar da filosofia nietzschiana, Sócrates, considera<strong>do</strong> o inicio da<br />

racionalidade ocidental, é que mata a possibilidade <strong>do</strong> mito e fundamenta a<br />

verdade. Porém, um questionamento não estava sen<strong>do</strong> feito: o que torna essa<br />

verdade verdadeira? O fundamento será encontra<strong>do</strong> em uma lógica dialética,<br />

construída sobre os pilares da causalidade. Causa e efeito serão vistos como a<br />

grande possibilidade de explicação racional <strong>do</strong> universo. Mas, apesar de toda a sua<br />

força e aparente inquestionabilidade 9 , o par dialético cai em uma contradição<br />

dentro de seu próprio sistema: quem (ou o que) seria a causa primeira. Aquela<br />

causa não causada. A causa original.<br />

Os gregos anteriores a Sócrates (pré-socráticos) são mais bem vistos por<br />

Nietzsche. Ainda em seu primeiro livro, O nascimento da tragédia, é<br />

desenvolvida a idéia de um mun<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> por duas forças básicas: Dionísio e<br />

Apolo. Porém, diferente da dialética socrática, esses <strong>do</strong>is deuses não estão em<br />

oposição e a luta deles não irá resultar em uma síntese. “Apolo não podia viver<br />

sem Dionísio!” (NIETZSCHE, 1999a, 41) Apolo, deus da beleza, da serenidade,<br />

não será o oposto de Dionísio, deus das festas. A passagem <strong>do</strong>s gregos de Dionísio<br />

para Apolo se dá, segun<strong>do</strong> Nietzsche, por um excesso de afirmação da vida. O<br />

culto de Dionísio simboliza a possibilidade de integração <strong>do</strong> homem com o seu<br />

deus, com a própria natureza. Nas festas dionisíacas, o homem era capaz de<br />

mergulhar diretamente no to<strong>do</strong> divino, por ele mesmo cria<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> da passagem<br />

para o culto de Apolo, essa possibilidade não diminui, apenas se transforma. Nos<br />

grandes festivais trágicos, eram realizadas festas, nas quais o homem podia se<br />

reconhecer na divindade. O destino último dessas festas era a própria consciência<br />

9 “Se alguém é um dialéctico, tem na sua mão um instrumento implacável; e com ele pode<br />

tiranizar; compromete os outros ao vencê-los. O dialéctico deixa ao seu adversário a tarefa de<br />

provar que não é um idiota: enfurece os outros, ao mesmo tempo priva-os da capacidade para<br />

se defenderem. O dialéctico torna impotente o intelecto <strong>do</strong> adversário.” (NIETZSCHE, F.<br />

Crepúsculo <strong>do</strong>s í<strong>do</strong>los. Trad. Delfim Santos F.º. Lisboa: Guimarães Editora, 1985. 29.)

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