texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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longos alari<strong>do</strong>s como ulular de tormenta. A estatua é uma allegoria <strong>do</strong> genio: uma bella<br />
figura estranha, sobre eleva<strong>do</strong> pedestal, e lançada para o céu, numa angustia ufana de<br />
deus <strong>do</strong>loroso, e a indicar, no horizonte, uma estrella que se eleva respsandecente (sic)...<br />
Parece que a estatua tem o seu olhar, illumina<strong>do</strong> e terrivel, movel e flammante, a agitar-<br />
se, perdi<strong>do</strong> entre a sombra da terra e o esplen<strong>do</strong>r das alturas. Dos seus labios adivinha-<br />
se que vão irromper palavras nunca ouvidas, a trazer para fóra toda a obsessão que aba;a<br />
aquelle peito; e o seu semblante como que reflecte uma luz nova de sol desconheci<strong>do</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> o artista, com a alegria pungente de um crea<strong>do</strong>r de mun<strong>do</strong>s, afastou a cortina,<br />
to<strong>do</strong> um povo convulso ergueu as mãos para elle e para a sua obra. O applauso da<br />
multidão era como um vasto rugi<strong>do</strong>, colossal e formidan<strong>do</strong>, que causava pavor. Nunca<br />
se tinha visto no mun<strong>do</strong> um triumpho assim. ⎯ No emtanto, Hulme, a um la<strong>do</strong>,<br />
continúa impassivel. Contempla a estatua em silencio, como si tivesse a alma genuflexa,<br />
em a<strong>do</strong>ração. Ao cabo de alguns instante, embeveci<strong>do</strong> no seu extase, vai alçan<strong>do</strong> os<br />
braços para ella, num arroubo e numa irradiação de quem vê coisas estupendas. E entre<br />
a cabeça de Hulme e a estatua gloriosa vagou, por momentos, a curiosidade assombrada<br />
da turba. E maior foi o espanto de to<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> hulme, no seu deslumbramento, tomou<br />
machinalmente o carmatello, ascendeu ao pedestal e, com a rapidez <strong>do</strong> relampago, fez<br />
tombar a estrella, deixan<strong>do</strong> a estatua na sua ancia a apontar para o espaço vasio... Ao ver<br />
mutilada a grande obra, a multidão teve um espasmo, um como deliqui de mostro<br />
feri<strong>do</strong>. Tanilla, hirto, desfigura<strong>do</strong>, como si estivesse diante da morte, quiz despedir num<br />
grito toda a sua afflição, e um fremito homicida commoveu toda a alma daquella massa<br />
convulsionada. Mas assoma altivo, imperioso, sobrehumano, o vulto de Hulme, contem<br />
o seu rival e faz estacar a turba. – “Olhai agora! – clamou elle. Procurae pelo espaço o<br />
astro que se sumiu. Ditosos os que já possuem visào para alcançar a estrella invisível!”<br />
E dirigin<strong>do</strong>-se a Tanilla, ali perto venci<strong>do</strong> e desola<strong>do</strong>: – “É verdade que a tua, meu caro,<br />
é a grande Arte; mas a minha é... a Arte que vem!...”<br />
O MONJE. – A beira <strong>do</strong> riacho, immovel, absorto, elle tem os olhos para a<br />
corrente. Em torno – o deserto. Por cima – o esplen<strong>do</strong>r da manhã. “Como é bello este<br />
espectaculo! como é bella a floresta e o ceu! a natureza inteira como é bella!” –<br />
exclamei a ver si despertava o monje daquella contemplação. – “Espera, filho – falou<br />
elle, sem deviar (sic) os olhos da corrente: espera... deixa-me pensar numa outra<br />
belleza...”