texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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é estar entre seres que se conhecem mas que estão separa<strong>do</strong>s e que o poeta é capaz de<br />
aproximar, por reconhecer que se corresponde com eles.<br />
Baudelaire, quase a despeito de si mesmo, se desvia de sua adesão ao misticismo<br />
swedenborguiano. Em <strong>do</strong>is pontos importantes contradiz Swedenborg, ainda que usan<strong>do</strong> a<br />
própria terminologia <strong>do</strong> filósofo. Em seu poema dedicatória de Lês Fleurs du Mal, dirigese<br />
ao leitor como “hypocrite lecteur” no senti<strong>do</strong> que Swedenborg usou o termo, isto é, <strong>do</strong>s<br />
homens que têm fala<strong>do</strong> como os anjos mas que têm conheci<strong>do</strong> interiormente a natureza<br />
solitária. Baudelaire, contu<strong>do</strong>, também chama o leitor de “mon semblable, mon frère”,<br />
declaran<strong>do</strong>, deste mo<strong>do</strong>, implicitamente, que talvez a transcendência, que dará a algumas<br />
indicações em alguns de seus poemas, possa ser um fingimento; e, train<strong>do</strong> o santo<br />
padroeiro <strong>do</strong>s literatos de sua época, a experiência espiritual que comunicará em sua<br />
antologia, cuida<strong>do</strong>samente concebida, está realmente circunscrita aos limites da natureza<br />
terrena. (BALAKIAN, 2002, 32)<br />
A dualidade baudelariana que servirá de guia para o Simbolismo é a que coloca<br />
o confronto entre o mun<strong>do</strong> interior e o mun<strong>do</strong> exterior, “situan<strong>do</strong> a correspondência<br />
entre a visão interior e a realidade exterior” (BALAKIAN, 2002, 33). Entretanto, é<br />
preciso deixar claro que esse mun<strong>do</strong> interior de Baudelaire não é um espírito que<br />
encarna no corpo, mas a própria essência desse ser, dada pela sua subjetividade e<br />
intelectualidade, não haven<strong>do</strong>, desta forma, separação real entre a parte espiritual e a<br />
parte sensual de um ser. “A mente fornece a chave para o poema, e os senti<strong>do</strong>s o<br />
preenchem com suas harmonias” (BALAKIAN, 2002, 35).<br />
Em Baudelaire se encontrará a incorporação da questão musical como a<br />
possibilidade de aban<strong>do</strong>no de uma possibilidade de explicação racional <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> – o<br />
que, de acor<strong>do</strong> com GOMES (1994), já podia ser visto em Victor Hugo. Entretanto,<br />
Baudelaire não havia incorpora<strong>do</strong> a própria notação musical enquanto um recurso<br />
formal para o poema. O que Baudelaire usou foi a estrutura musical, dan<strong>do</strong> uma nova<br />
dinâmica na utilização da natureza dentro <strong>do</strong> poema, produzin<strong>do</strong> jogos de sons<br />
musicais, possibilitan<strong>do</strong> uma ampliação nas possiblidades de combinação das palavras.<br />
Em lugar de suas sentimentalizações da natureza física, temos aqui um primeiro exemplo<br />
<strong>do</strong> que T. S. Eliot chamou “a correlação objetiva”. A natureza não abraça o poeta, serve<br />
como um instrumento para a expressão poética. E seu alcance é tão variável e versátil<br />
como uma escala musical, o que permite o poeta aban<strong>do</strong>nar a seqüência racional <strong>do</strong><br />
pensamento por uma estrutura muito menos racional ⎯ a da música: tema e variação,<br />
exposição e desenvolvimento. (BALAKIAN, 2002, 36)<br />
A apresentação <strong>do</strong> poeta <strong>do</strong> futuro, no poema <strong>do</strong> Haxixe, estará muito próxima<br />
<strong>do</strong> que será o ideal estético simbolista e da busca existencial decadente. De acor<strong>do</strong> com<br />
a síntese apresentada por BALAKIAN (2002, 36) desse poeta, ele seria alguém<br />
meio nervoso, meio bilioso, possuin<strong>do</strong> uma mente cultivada, treina<strong>do</strong> na percepção da<br />
forma e da cor e um coração terno satura<strong>do</strong> da infelicidade; ten<strong>do</strong> um gosto para a