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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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humana. Mais <strong>do</strong> que mera representação, o trágico era a própria experiência da<br />

queda. E, no trágico, existia a possibilidade não somente da queda, mas da própria<br />

superação. Apolo transformou o culto de Dionísio em uma expressão estética. E,<br />

enquanto estética, ainda individual e incomunicável para os demais. Cada<br />

indivíduo era capaz de se reconhecer e de reconhecer a sua própria queda. Cada um<br />

deveria reconhecer a sua hybris. Mas não para lutar contra ela. Não para negá-la.<br />

Mas para amá-la. É essa própria hybris que define o seu destino. É ela que dirá o<br />

que se é na vida. Ela é o destino individual e a possibilidade de superação dada a<br />

cada um.<br />

Em No Hospício, há a existência da idéia de hybris, não na acepção <strong>do</strong><br />

grego, mas na acepções <strong>do</strong> cristianismo. O narra<strong>do</strong>r, ao escolher os trechos para<br />

transcrever <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> caderno de Fileto, Fragmentos, escolhe a seguinte<br />

passagem:<br />

XVII. – A lei antiga punia o crime: a lei de Jesus (a que veiu regular a genese espiritual)<br />

pune o pecca<strong>do</strong> – quer dizer o crime ainda na consciencia... Vêde si comprehendeis o<br />

alcance disto... (POMBO, 1905, 128)<br />

Percebe-se nesse trecho a passagem para uma consciência forte sobre o que é o<br />

atuar no mun<strong>do</strong>. Enquanto a lei antiga punia o crime efetua<strong>do</strong>, objetiva<strong>do</strong> no<br />

mun<strong>do</strong>, a lei nova não pune o crime, mas o peca<strong>do</strong>. Ou seja, o crime em potencial,<br />

a transgressão subjetiva da norma. Passa-se, assim, para um estágio bem<br />

diferencia<strong>do</strong> na questão <strong>do</strong> controle. Cada um controla a si mesmo. Pune-se não<br />

mais o ser material, mas o seu espírito. É a tentativa de incutir no ser normas de<br />

conduta muito mais fortes <strong>do</strong> que as que se usam para efetivar um controle físico.<br />

O próprio ser é o seu carrasco. Essa postura já está de acor<strong>do</strong> com a noção <strong>do</strong><br />

narra<strong>do</strong>r no romance. Fileto, que desde o início <strong>do</strong> romance era exposto como um<br />

ser que possuía uma grande liberdade intelectual, agora aparece amarra<strong>do</strong> pela<br />

noção de peca<strong>do</strong>.<br />

Deve-se tomar cuida<strong>do</strong> com a tradução <strong>do</strong> termo grego para a modernidade.<br />

A mudança <strong>do</strong> termo hybris para peca<strong>do</strong> já traz, em si, toda a marca operada pelo<br />

cristianismo no pensamento ocidental. A hybris grega não é peca<strong>do</strong> 10 . Ela está mais<br />

10 “Em relação ao cristianismo, os Gregos são crianças. A sua forma de depreciar a existência,<br />

o seu ‘niilismo’, não possui a perfeição cristã. Julgam a existência culpada, mas ainda não<br />

tinham inventa<strong>do</strong> essa subtileza que consiste em julgá-la culpada e responsável. Quan<strong>do</strong> os<br />

Gregos falam da existência como criminosa e ‘hybrica’, pensam que os deuses tornaram os

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