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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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um princípio de autonomia completa da arte, buscar-se desvincular-se <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Não se pode querer, também, pensar o homem de forma isolada. Isso é um<br />

absur<strong>do</strong>. Os homens não estão isola<strong>do</strong>s. Na verdade, estão uni<strong>do</strong>s, em uma<br />

linhagem que segue, agora sim, em direção de cada um. Tanto a busca de<br />

autonomia, como a busca de total dependência, geram fundamentações fora da<br />

realidade da vida. São fundamentações imaginárias que acabam sen<strong>do</strong> defendidas<br />

como verdades 30 . Essa saída da vida em direção a outros mun<strong>do</strong> distorce a vida e<br />

distorce o ser 31 . Somente seria possível a arte, visto ela ser uma criação pessoal,<br />

sen<strong>do</strong>-se fiel a si mesmo 32 .<br />

E por isso não se deve buscar respostas na arte. Não seria função dela<br />

constituir um mun<strong>do</strong> para o coletivo. Desta forma, a arte deve ir além <strong>do</strong>s campos<br />

da arte tradicional e ser aplicada à vida. Somente aquele que encarar a vida como<br />

uma forma estética, descobrin<strong>do</strong> as belezas que ela traz para ele mesmo,<br />

descobrin<strong>do</strong> a sua própria realidade, a sua própria verdade, superan<strong>do</strong> a condição<br />

de um reprodutor de uma moral e de uma metafísica já prontas.<br />

A busca essencial da arte pelo belo faz que, através dela descubra-se uma<br />

forma de encontrar um senti<strong>do</strong> para a vida (que jamais poderá ser assumi<strong>do</strong> como<br />

e não lhes é da<strong>do</strong> poderem mentir por ‘inocência’ ou por ‘ignorância’. O sacer<strong>do</strong>te também<br />

sabe, como qualquer pessoa, que já não há ‘Deus’, nem ‘peca<strong>do</strong>’, nem ‘Salva<strong>do</strong>r’ — que o<br />

‘livre arbítrio’, a ‘ordem moral universal’ são mentiras — a seriedade, a profunda vitória<br />

espiritual sobre si mesmo não permitem já a ninguém parecer ignorante sobre esse ponto...<br />

Todas as idéias da Igreja estão reconhecidas pelo que realmente são, a mais pútrida e falsa<br />

amoedação que possa existir para desprezar a natureza e os valores naturais; o sacer<strong>do</strong>te está<br />

reconheci<strong>do</strong> pelo que efectivamente é, a espécie mais daninha de parasita, a verdadeira<br />

tarântula da vida... Nós sabemos, a nossa consciência sabe agora, o que valem essas sinistras<br />

invenções <strong>do</strong>s sacer<strong>do</strong>tes e da Igreja, para que serviram, como se atingiu este esta<strong>do</strong> de<br />

poluição da humanidade por si própria, cujo espectáculo chega a inspirar horror — as noções<br />

de ‘além’, de ‘juízo final’, de ‘imortalidade da alma’, da própria ‘alma’, são instrumentos de<br />

tortura, sistemas de crueldade de que se serviam os sacer<strong>do</strong>tes para se converterem em<br />

senhores e para manterem o seu poder... (...) E que aborto de falsidade deve ser o homem<br />

moderno para não se envergonhar de lhe chamarem ainda cristão!...” (NIETZSCHE, F. O<br />

anticristo. Trad. Pedro Delfim Pinto <strong>do</strong>s Santos. Lisboa: Guimarães Editora, 1997. 72.)<br />

30 As discussões sobre esses grandes erros estão propostas na parte intitulada Os quatro<br />

grandes erros, <strong>do</strong> livro Crepúsculo <strong>do</strong>s í<strong>do</strong>los.<br />

31 “Quan<strong>do</strong> se coloca o centro de gravidade da vida não na vida, mas no ‘além’ — no nada —<br />

tira-se à vida o seu centro de gravidade.” (NIETZSCHE, F. O anticristo. Trad. Pedro Delfim<br />

Pinto <strong>do</strong>s Santos. Lisboa: Guimarães Editora, 1997. 80.)<br />

32 “Chamo mentira ao negar-se a ver certas coisas que se vêem, negar-se a ver alguma coisa tal<br />

como ela é; pouco importa se a mentira se disse diante de testemunhas ou não. A mentira mais<br />

frequente é a que cada qual diz a si proprio; mentir aos outros é um caso relativamente<br />

excepcional. Mas não querer ver o que se vê, não querer ver como se vê, isto é quase condição<br />

primordial para to<strong>do</strong>s os que são de tal e qual parti<strong>do</strong>: o homem de parti<strong>do</strong> é necessariamente<br />

mentiroso. (NIETZSCHE, F. O anticristo. Trad. Pedro Delfim Pinto <strong>do</strong>s Santos. Lisboa:<br />

Guimarães Editora, 1997. 107.)

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