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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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afasta Nietzsche de Wagner 36 . Este último acaba produzin<strong>do</strong> uma arte alemã,<br />

voltada para a consolidação <strong>do</strong>s valores nacionais. Uma arte sobre as tradições e o<br />

passa<strong>do</strong> de um povo, inventan<strong>do</strong> esse próprio povo. Fazer as pessoas acreditarem<br />

que pertencem a algo maior, que estão destinadas a um projeto. Resgata o passa<strong>do</strong><br />

enquanto histórias de valores, justifican<strong>do</strong> o presente. Não faz genealogia, não<br />

questiona o valor desses valores, apenas os usa. Nietzsche reconhece nele toda a<br />

mediocridade alemã. Wagner nunca deixou de ser romântico, fazen<strong>do</strong> arte para as<br />

massas, para encantar a multidão. O povo a ele recorre atrás de respostas, de<br />

redenção. A sua música não eleva, não é capaz de recriar a tragédia. É capaz<br />

somente de dar nova magnitude a um mun<strong>do</strong> planifica<strong>do</strong>.<br />

O niilismo europeu (e, quiçá, ocidental), segun<strong>do</strong> Nietzsche, é um ambiente<br />

fértil (tanto quanto foi o cristianismo na época de seu apogeu) para o surgimento<br />

da superação <strong>do</strong> homem. A percepção de que nada mais se fundamenta, o<br />

questionamento <strong>do</strong>s valores, uma vez começa<strong>do</strong> – questionou-se o mun<strong>do</strong> cristão e<br />

tentou-se substitui-lo pela modernidade –, possibilita que se olhe para a realidade e<br />

enxerguem que a verdade que lhes é pregada não é tão verdadeira assim. Em<br />

contrapartida, o combate a essas pessoas se torna cada vez mais forte. A<br />

massificação e a institucionalização de idéias acaba por gerar um conhecimento<br />

que se pretende verdadeiro e não-transcendente. Construí<strong>do</strong> a partir da lógica. Um<br />

pensamento dialético que, sob a sua feição mais livre, esconde-se a<br />

impossibilidade <strong>do</strong> múltiplo. A democracia, enquanto reino da maioria, faz com<br />

que se limite a possibilidade <strong>do</strong> jogo de da<strong>do</strong>s.<br />

O acaso deve ser excluí<strong>do</strong>. Deve-se jogar para a obtenção de determina<strong>do</strong><br />

fim, ou não se deve jogar (deixar que outros joguem). Deve-se eliminar as<br />

possibilidades indesejadas, dan<strong>do</strong> a finalidade <strong>do</strong> jogo de antemão. Ela é<br />

predefinida. As suas regras são impostas e os resulta<strong>do</strong>s devem estar conti<strong>do</strong>s<br />

36 “Que comecei a fabular [quan<strong>do</strong> escreveu seu primeiro livro – esse trecho é <strong>do</strong> prefácio<br />

escrito posteriormente no qual Nietzsche revê certos posicionamentos seus neste livro], com<br />

base nas últimas manifestações da música alemã, a respeito <strong>do</strong> ‘ser alemão’, como se ele<br />

estiver precisamente a ponto de descobrir-se e reencontrar-se a si mesmo — e isto em uma<br />

época em que o espírito alemão, que não muito tempo antes havia ti<strong>do</strong> ainda vontade de<br />

<strong>do</strong>mínio sobre a Europa, a força de guiar a Europa, justamente abdicava disso por disposição<br />

testamentária e de maneira definitiva e, sob o pomposo pre<strong>texto</strong> da fundação de um Reich<br />

[império], realizava a sua passagem para a mediocrização acomodante, para a democracia e<br />

para as idéias ‘modernas’! De fato, entrementes aprendi a pensar de uma forma bastante<br />

desesperançada e desapiedada acerca desse ‘ser alemão’, assim como da atual música alemã, a<br />

qual é romantismo de ponta a ponta e a menos grega de todas as formas possíveis de arte.”<br />

(NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia – ou Helenismo e Pessimismo. Trad.<br />

J.Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 21.)

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