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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Mesmo com o triunfo de um mun<strong>do</strong> individualista, o foco de pensamento<br />

continuava pauta<strong>do</strong> sobre uma força externa que determinava a forma de organização<br />

última deste mun<strong>do</strong> material no qual vivemos. E, somente a compreensão da relação<br />

entre este mun<strong>do</strong> e o seu princípio funda<strong>do</strong>r, a sua causa anterior e Primeira (como disse<br />

Swedenborg) é que as relações verdadeiras podem ser compreendidas. Ainda é um<br />

mun<strong>do</strong> que permite o absoluto.<br />

Entretanto, deve-se deixar bem claro que o absoluto, mesmo sen<strong>do</strong> possível, não<br />

é mais um absoluto dita<strong>do</strong> por uma instituição. Mas deve ser compreendi<strong>do</strong><br />

individualmente. E isso não quer dizer que a verdade seja formada por cada um. Cada<br />

um terá total liberdade de compreender (ler) o mun<strong>do</strong>. Mas o absoluto continua<br />

existin<strong>do</strong>. E ele pode ser alcança<strong>do</strong> pelas correspondências que cada um é capaz de<br />

fazer. O caminho a ser segui<strong>do</strong> não está defini<strong>do</strong>, mas o ponto de chegada deve ser o<br />

mesmo. No campo das questões estéticas, mesmo que a arte tenha si<strong>do</strong> radicalmente<br />

modificada entre o final <strong>do</strong> século XVIII e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, é possível ver que<br />

ainda se mantém viva a forma como Kant vê o julgamento estético. É possível que o<br />

juízo humano se deturpe, que crie o feio, mas ele, ao olhar para o belo, que é uma<br />

qualidade que está acima <strong>do</strong>s padrões sociais, não terá como negá-lo. Mesmo sen<strong>do</strong><br />

idêntico o ponto de chegada, cada um poderá – deverá – seguir o seu caminho, sob pena<br />

de acabar cain<strong>do</strong> em lugares-comuns, na trivialidade. Um caminho pessoal que possa<br />

conduzir a humanidade à Redenção. Mesmo que to<strong>do</strong>s possuam uma natureza<br />

semelhante quanto ao caminhar pelo mun<strong>do</strong> e para a verdade, esse caminhar deve ser<br />

individual. A arte é uma construção subjetiva – e, por conseguinte, individual –, o que a<br />

diferencia da natureza. A arte não deve espelhar totalmente a natureza, mas deve recriá-<br />

la de forma sublime, mesmo que através de imagens grotescas. Porém, mesmo com toda<br />

a liberdade dada ao indivíduo, ela só pode ocorrer no mun<strong>do</strong> material. A arte, para os<br />

estetas românticos, é uma forma de decifração das correspondências (tanto quanto a<br />

Palavra divina é para Swedenborg). Então, a arte não é a vida, mas uma concentração de<br />

possibilidades que ajudaria na compreensão de um senti<strong>do</strong> para a vida.<br />

Deve-se, pois, reconhecer, sob pena de absur<strong>do</strong>, que o <strong>do</strong>mínio da arte e o da natureza são<br />

perfeitamente diferentes. A natureza e a arte são duas coisas, sem o que uma ou outra não<br />

existiria. (...) O drama é um espelho em que se reflete a natureza. Mas, se este espelho é<br />

um espelho ordinário, uma superfície plana e unida, devolverá <strong>do</strong>s objetos apenas uma<br />

imagem apagada e sem relevo fiel, mas descolorida; sabe-se que a cor e a luz perdem à<br />

simples reflexão. É, pois, preciso que o drama seja um espelho de concentração que, longe<br />

de enfraquecê-los, reúna e condense os raios corantes, que faça de um vislumbre uma luz,<br />

de uma luz uma chama. Só então o drama é arte. (HUGO, Victor; 68-69)

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