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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Como foi desenvolvi<strong>do</strong> no primeiro capítulo, aos poucos, o narra<strong>do</strong>r vai<br />

explicitan<strong>do</strong> ao leitor qual é a sua real intenção em relação a Fileto. Ele não foi ao<br />

hospício para ajudar ou simplesmente compreender Fileto. A sua vontade quase<br />

insaciável de encontrar um espírito eleva<strong>do</strong> não é meramente desejo de contemplar a<br />

beleza que esse espírito representaria. O narra<strong>do</strong>r é uma força que se sabe forte e que,<br />

por isso, sente necessidade de confrontar-se com outras forças, buscan<strong>do</strong> expandir-se<br />

sobre elas.<br />

Durante to<strong>do</strong> o romance, o narra<strong>do</strong>r mostra-se claramente conhece<strong>do</strong>r das<br />

possibilidades de atuação no mun<strong>do</strong> externo ao hospício. Ele sabe como deve proceder<br />

para que seus objetivos sejam alcança<strong>do</strong>s. Entretanto, fora desse mun<strong>do</strong>, em um outro<br />

universo construí<strong>do</strong> por um outro alguém, surge-lhe a dúvida sobre se seria capaz de<br />

impor-se também. A sua dúvida moral em relação a Fileto se dá por esse receio em<br />

relação à sua possibilidade de poder se sobrepor a essa outra moral que a ele se mostra.<br />

A vida que Fileto possui, no começo <strong>do</strong> romance, é descrita como o que seria<br />

uma vida artística. Ele constrói um mun<strong>do</strong> para si mesmo, com regras próprias. É<br />

preferível a ele o isolamento dentro de uma instituição de isolamento, como era o<br />

hospício, onde ele poderia vivenciar essa sua própria realidade, <strong>do</strong> que viver em<br />

liberdade na sociedade e ter de aceitar valores morais que não haviam si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s<br />

por ele mesmo. Abrir mão de si mesmo somente para poder viver em um esta<strong>do</strong> que é<br />

classifica<strong>do</strong> pelos outros como sen<strong>do</strong> liberdade não animava Fileto. Ele preferia estar<br />

condena<strong>do</strong> pelos outros à reclusão, mas não abria mão de seus próprios valores. Vê-se,<br />

nisso, uma postura ética por parte da personagem. Fileto é a sua própria obra artística.<br />

Não se interessa pela produção de obras de arte enquanto objetos outros no mun<strong>do</strong>.<br />

Busca somente a sua própria realização. Ele é o autor e a sua própria obra.<br />

Encontran<strong>do</strong> essa personagem, o narra<strong>do</strong>r dela se aproximará para testar até que<br />

ponto as suas posições são realmente consistentes. O narra<strong>do</strong>r entrará em cena (e, então<br />

to<strong>do</strong> o ambiente ficcional interno ao romance passa a existir) para contrapor-se à moral<br />

construída por Fileto. Toda uma estratégia é traçada pelo narra<strong>do</strong>r para que inicialmente<br />

Fileto aceite que ele entre em seu mun<strong>do</strong> e, então possam efetivamente interagir.<br />

Assim como a inquietação moral surgida no espírito <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r pela forma de<br />

vida de Fileto, os livros de Friedrich Nietzsche possuem um caráter questiona<strong>do</strong>r a<br />

respeito <strong>do</strong>s padrões morais da sociedade ocidental, especialmente sobre as bases dadas

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