texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Naturalismo. É uma defesa <strong>do</strong> vago, de dizer o inexprimível, de descrever o<br />
indescritível. Não é mais a busca de sentimento, mas de sensações.<br />
Uma vez confrontan<strong>do</strong> com a realidade, não há como negá-la. Não há como<br />
negar a verdade, uma vez que se seja capaz de chegar a ela. Entretanto, a verdade<br />
não é a mesma para to<strong>do</strong>s. Mais <strong>do</strong> que isso: cada um teria a sua verdade,<br />
construída pela sua própria consciência <strong>do</strong> estar no mun<strong>do</strong>. E, uma vez descoberta,<br />
o ser não pode mais tornar-se indiferente a ela. Mas, também não poderá se fazer<br />
entender pelos outros. A sua forma de ver o mun<strong>do</strong>, de justificar a própria<br />
existência não é algo transmissível.<br />
Segun<strong>do</strong> CANDIDO (2003), em seu ensaio sobre a chegada das idéias de<br />
Baudelaire no Brasil, vê-se que elas já estão presentes neste la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Atlântico<br />
desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1870. Entretanto, as primeiras manifestações ligadas com<br />
Baudelaire traziam uma marca de carnalidade, de crueza, e não de um mun<strong>do</strong><br />
marca<strong>do</strong> pelo limite terreno. Era uma leitira mutilada de Baudelaire, marcada pela<br />
profunda erotização e crueldade. Mas essa utilização interessa pelo fato de permitir<br />
uma revalorização das questões amorosas e, principalmente, pela critica mordaz<br />
que se pode fazer à realidade tradicional.<br />
Portanto, foi um grande instrumento liberta<strong>do</strong>r esse Baudelaire unilateral ou deforma<strong>do</strong>,<br />
visto por um pedaço, que fornecia descrições arrojadas da vida amorosa e favorecia uma<br />
atitude de oposição aos valores tradicionais, por meio de dissolventes como o tédio, a<br />
irreverência e a amargura. (CANDIDO, 2003, 26)<br />
Uma segunda leva de trabalho com as idéias de Baudelaire (CANDIDO, 2003) viria a<br />
ocorrer na década de 1880-1890, por poetas parnasianos, que o admiravam mas não chegaram a<br />
imitá-lo. Nesse perío<strong>do</strong>, alguns simbolistas também acabaram por a<strong>do</strong>tá-lo, aproximan<strong>do</strong>-se dele<br />
pelo viés decadente da<strong>do</strong> principalmente por Wilde e D’Annuzio. Juntar simbolistas e parnasianos<br />
em um mesmo foco de influência não é algo absur<strong>do</strong>, como seria para o caso francês. A<br />
diferenciação entre os simbolistas e parnasianos era complicada em uma região com uma<br />
movimentação cultural tão fraca como no caso brasileiro (RAMOS, 1979). A consagração<br />
acadêmica de Baudelaire só viria a ocorrer durante o Modernismo, nos anos 1930, com várias<br />
traduções de seus poemas e uma grande divulgação <strong>do</strong> poeta por parte de jornais e com o apoio da<br />
Academia Brasileira de Letras (CANDIDO, 2003).<br />
O simbolismo no Brasil não constituirá um movimento autônomo.<br />
Tradicionalmente, dá-se a Cruz e Sousa o papel de funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> simbolismo no Brasil<br />
quan<strong>do</strong>, em 1893, publicou Missal e Broqueis.