texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Quan<strong>do</strong> se contempla e se admira o bello, suffraga-se alguma coisa mais que a belleza<br />
sensivel em si – talvez uma perfeição que se adivinha, que se sente sem comprehender,<br />
uma belleza que ha de vir. A creatura só entrou na phase da veneração quan<strong>do</strong> começou<br />
a amar o bello.<br />
XXXIII. – É ainda de Nietzsche: “Chama0se o christianismo a religião da<br />
piedade. A piedade está em opposição com as affeições tonicas que elevam a energia <strong>do</strong><br />
senso vital: ella opera de um mo<strong>do</strong> depressivo. Perde-se força quan<strong>do</strong> se tem dó.” E<br />
mais: “Quan<strong>do</strong> não se colloca o centro de gravidade da vida na propria vida, mas no<br />
além – no nada, tem-se arrebata<strong>do</strong> á vida o seu centro de gravidade.” Eu só transcrevo<br />
esses trechos para sentir-lhes melhor o espantoso absur<strong>do</strong>.<br />
XXXIV. – “A grande mentira da immortalidade pessoal destroe toda razão, toda<br />
a anatureza no instincto...” Ah! e elle que queria o <strong>do</strong>minio completo <strong>do</strong> instincto! que,<br />
si pudesse, entregaria este e o outro mun<strong>do</strong> á besta!... – “O veneno da <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong>s<br />
direitos iguaes para to<strong>do</strong>s – este veneno o christianismo o semeou por principio: o<br />
christianismo destroe a nossa felicidade na terra...” É pena realmente... Nós eramos tão<br />
felizes com os Domicianos e os Neros... e o “Imperio Romano era a mais grandiosa<br />
fórma de organização que tem existi<strong>do</strong> na terra”...<br />
XXXV. – A definição que Nietzsche dá de arte e de sentimento esthetico é a<br />
mesma de Augusto Comte... aliás o philosopho que elle considera como o mais avisa<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s Jesuitas, porque... se inspirára na Immitação de Jesus. E ainda teve esta ironia: “Eu<br />
vos creio: a religião <strong>do</strong> coração...” O forte queria a religião da força.<br />
XXXVI. – Pascal ha de ter cada vez mais razão no odio que votou á sua carne.<br />
Passar era a aspiração suprema <strong>do</strong> seu grande espirito.<br />
XXXVII. – Não chamarei besta a nenhum de meus semelhantes. Besta é quem<br />
não sabe comprehender os homens. Então, tu que te afanas por entender o inorganico,<br />
que ficas estatella<strong>do</strong> ante a montanha e ante o mar – desdenhas a luz divina que sái da<br />
vida?<br />
XXXVIII. – É interpretan<strong>do</strong> a natureza, é sentin<strong>do</strong> na Creação o Verbo Divino<br />
que nos temos levanta<strong>do</strong>. Mas não esqueçamos que a alma humana é a eloquencia mais<br />
vida de Deus...<br />
XXXIX. – A vida na familia me parece um grande castigo, a que eu sou feliz de<br />
me haver eximi<strong>do</strong>. Só, ou então na companhia ou no convivio de espiritos – eis como é<br />
possivel a grande vida. Na familia, mesmo santificada pelo verdadeiro amor, a vida se<br />
materialisa. “Mas a familia – dizem-me – é uma necessidade ou uma condição capital