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texto integral - Allan Valenza.pdf - Universidade Federal do Paraná

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metafísica, mas simplesmente uma mudança da fundamentação transcendente desta<br />

mesma metafísica: deixou-se, cada vez mais, Deus de la<strong>do</strong>, para voltar-se para o<br />

Povo, a Nação, o Esta<strong>do</strong>. A perda de força da Igreja, enquanto instituição, não é<br />

vista por Nietzsche como uma mudança nos padrões morais da sociedade<br />

ocidental. Deixaram de atuar “em nome de Deus” para usarem a justificativa de<br />

agirem “em nome da Nação”, “em nome <strong>do</strong> Povo”, “em nome <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>”. E, usar<br />

uma instituição que é maior que o ser humano, que se coloca como impositora de<br />

valores, faz o mesmo papel que um Deus onipotente e onipresente, o Deus cristão.<br />

Da mesma forma, a ciência moderna acaba por buscar uma finalidade no<br />

mun<strong>do</strong>. Nietzsche não nega o valor da ciência, mas o relativiza. O conhecimento é<br />

algo fundamental para o homem, assim como para a sua superação. Mas vale<br />

salientar qual tipo de conhecimento. A ciência moderna trabalha com a busca de<br />

respostas das quais se possa dizer serem verdadeiras. Achar a verdade, enquanto<br />

uma verdade universal, é o grande erro da ciência, pois querer encontrar padrões<br />

váli<strong>do</strong>s para to<strong>do</strong>s os casos exclui, necessariamente, o acaso. O rearranjo de forças<br />

não pode ser previsto pela ciência, o que faz com que se cristalize uma forma de<br />

conhecimento: a cristalização de um modelo de vida leva, conseqüentemente, à<br />

cristalização de uma moral e à exclusão <strong>do</strong> múltiplo.<br />

Esse posicionamento de passagem de força entre Igreja e Ciência está<br />

presente em No Hospício. Duas personagens, como foi aponta<strong>do</strong> no capítulo I, são<br />

exemplares nessa questão: a submissão de soror Thereza ao poder que o Dr.<br />

Tristão possui. Além disso, por to<strong>do</strong> o romance, pode-se ver um caminhar, das<br />

idéias de Fileto, explicitadas nos trechos transcritos de seus cadernos, que partem<br />

de uma crença na ciência e na capacidade que ela possui de explicar o mun<strong>do</strong>,<br />

desde que seja aplica<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> correto (caderno I – Psicologia das visões-<br />

ANEXO 02). Ao final <strong>do</strong>s trechos transcritos desse caderno, Fileto recebe <strong>do</strong><br />

narra<strong>do</strong>r um livro de Nietzsche. E então, no segun<strong>do</strong> caderno (Fragmentos –<br />

ANEXO 03), as idéias de Fileto já se encontram dentro de uma relatividade<br />

marcada por uma busca de fundamentação estética para a realidade. E, mesmo que,<br />

em grande medida, Fileto discorde das posturas de Nietzsche, a estruturação de seu<br />

pensamento já é muito mais crítica e aberta para outras possibilidades que não a<br />

ciência. No terceiro caderno (Minhas criaturas – ANEXO 04), vê-se uma guinada<br />

<strong>do</strong> <strong>texto</strong> de Fileto para a ficcionalização, mas que, ao final desse caderno, já se<br />

aponta para uma nova mudança de postura de Fileto em direção da religiosidade,

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