rachel freire barrón torrez centralidade na cidade ... - Ippur - UFRJ
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ou fluviais e a permanência ou promoção da moradia social. No entanto, sua tese apresenta a<br />
complexificação dos processos de gentrificação. Mantendo como corolário a saída das classes<br />
populares dos centros urbanos, o fenômeno que décadas atrás era margi<strong>na</strong>l e associava-se a<br />
poucos atores privados, recentemente tornou-se a agenda global do urbanismo<br />
contemporâneo, ou seja, a forma domi<strong>na</strong>nte da política urba<strong>na</strong> das grandes <strong>cidade</strong>s ocidentais,<br />
articulando parcerias fi<strong>na</strong>nceiras público-privadas.<br />
Smith apresenta os processos de gentrificação e como estes eram vistos <strong>na</strong> década de<br />
1980/90 como resultado de políticas “mal-sucedidas”, ou seja, como anomalias locais, e que,<br />
no entanto, recentemente seriam percebidos como processos “desejáveis”. Logo, a<br />
gentrificação, principalmente de áreas centrais, estaria <strong>na</strong> gênese a<strong>na</strong>lítica dos processos de<br />
reconversão, sendo “camuflados” em meio a discursos eufemistas de “revitalização,<br />
recuperação, regeneração”. A gentrificação estaria, portanto, para Smith, <strong>na</strong> base da<br />
formatação das políticas e coalizões de atores do meio empresarial.<br />
No Brasil, mais especificamente <strong>na</strong> metrópole carioca, a política de gentrificação posta<br />
como política urba<strong>na</strong> é apontada criticamente por pesquisadores do Instituto do Patrimônio<br />
Histórico Nacio<strong>na</strong>l (IPHAN). Tais ações apresentadas pelo Poder Público visariam a<br />
valorização dos centros, a atração e a competição urba<strong>na</strong> por meio da “reconversão<br />
econômica”.<br />
[...] concluo que as políticas públicas cariocas desti<strong>na</strong>das a proteger o patrimônio<br />
devem revalorizar a função habitacio<strong>na</strong>l, reabilitar a estrutura funcio<strong>na</strong>l e a<br />
qualidade ambiental, valorizar e preservar o patrimônio edificado, reorde<strong>na</strong>r o<br />
sistema viário e o estacio<strong>na</strong>mento, implementar medidas contra incêndios e<br />
requalificar o ambiente urbano, sem proceder à descaracterização em pastiches sem<br />
valor histórico ou estético. Os teóricos do patrimônio e da <strong>cidade</strong> não devem retirar<br />
o significado das edificações, ainda que seja possível valorizar um casario<br />
reabilitado se este mesmo casario atender às necessidades antropológicas da <strong>cidade</strong>,<br />
isto é, não sejam reutilizados para solucio<strong>na</strong>r as questões de city marketing, que<br />
levam a <strong>cidade</strong> a estabelecer um distanciamento dos antigos habitantes de um<br />
determi<strong>na</strong>do bairro que se quer reabilitar. Nesse caso todo o corpus do patrimônio<br />
arquitetônico urbano perderia por completo qualquer valor memorial afetivo para<br />
conservar ape<strong>na</strong>s o valor intelectual, e de entretenimento que lhe confere a indústria<br />
patrimonial (LIMA, op.cit.).<br />
Essa nova dinâmica que envolve o patrimônio histórico-cultural edificado no centro<br />
do Rio de Janeiro, dadas as limitações do marco regulatório das APACs e ausência<br />
de tombamentos do Iphan sobre os conjuntos urbanos, traz o risco de desarticulação<br />
do próprio patrimônio, enquanto repertório simbólico diversificado, porque os<br />
processos de reciclagem em curso nessas áreas supervalorizam a projeção e<br />
valorização do ambiente urbano no imaginário sócio-cultural, pondo de lado, muitas<br />
vezes, a sua condição de suporte da memória social, de referência cultural e base dos<br />
processos de construção das identidades coletivas (MESENTIER, op.cit.).