05.03.2014 Views

rachel freire barrón torrez centralidade na cidade ... - Ippur - UFRJ

rachel freire barrón torrez centralidade na cidade ... - Ippur - UFRJ

rachel freire barrón torrez centralidade na cidade ... - Ippur - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

148<br />

ou fluviais e a permanência ou promoção da moradia social. No entanto, sua tese apresenta a<br />

complexificação dos processos de gentrificação. Mantendo como corolário a saída das classes<br />

populares dos centros urbanos, o fenômeno que décadas atrás era margi<strong>na</strong>l e associava-se a<br />

poucos atores privados, recentemente tornou-se a agenda global do urbanismo<br />

contemporâneo, ou seja, a forma domi<strong>na</strong>nte da política urba<strong>na</strong> das grandes <strong>cidade</strong>s ocidentais,<br />

articulando parcerias fi<strong>na</strong>nceiras público-privadas.<br />

Smith apresenta os processos de gentrificação e como estes eram vistos <strong>na</strong> década de<br />

1980/90 como resultado de políticas “mal-sucedidas”, ou seja, como anomalias locais, e que,<br />

no entanto, recentemente seriam percebidos como processos “desejáveis”. Logo, a<br />

gentrificação, principalmente de áreas centrais, estaria <strong>na</strong> gênese a<strong>na</strong>lítica dos processos de<br />

reconversão, sendo “camuflados” em meio a discursos eufemistas de “revitalização,<br />

recuperação, regeneração”. A gentrificação estaria, portanto, para Smith, <strong>na</strong> base da<br />

formatação das políticas e coalizões de atores do meio empresarial.<br />

No Brasil, mais especificamente <strong>na</strong> metrópole carioca, a política de gentrificação posta<br />

como política urba<strong>na</strong> é apontada criticamente por pesquisadores do Instituto do Patrimônio<br />

Histórico Nacio<strong>na</strong>l (IPHAN). Tais ações apresentadas pelo Poder Público visariam a<br />

valorização dos centros, a atração e a competição urba<strong>na</strong> por meio da “reconversão<br />

econômica”.<br />

[...] concluo que as políticas públicas cariocas desti<strong>na</strong>das a proteger o patrimônio<br />

devem revalorizar a função habitacio<strong>na</strong>l, reabilitar a estrutura funcio<strong>na</strong>l e a<br />

qualidade ambiental, valorizar e preservar o patrimônio edificado, reorde<strong>na</strong>r o<br />

sistema viário e o estacio<strong>na</strong>mento, implementar medidas contra incêndios e<br />

requalificar o ambiente urbano, sem proceder à descaracterização em pastiches sem<br />

valor histórico ou estético. Os teóricos do patrimônio e da <strong>cidade</strong> não devem retirar<br />

o significado das edificações, ainda que seja possível valorizar um casario<br />

reabilitado se este mesmo casario atender às necessidades antropológicas da <strong>cidade</strong>,<br />

isto é, não sejam reutilizados para solucio<strong>na</strong>r as questões de city marketing, que<br />

levam a <strong>cidade</strong> a estabelecer um distanciamento dos antigos habitantes de um<br />

determi<strong>na</strong>do bairro que se quer reabilitar. Nesse caso todo o corpus do patrimônio<br />

arquitetônico urbano perderia por completo qualquer valor memorial afetivo para<br />

conservar ape<strong>na</strong>s o valor intelectual, e de entretenimento que lhe confere a indústria<br />

patrimonial (LIMA, op.cit.).<br />

Essa nova dinâmica que envolve o patrimônio histórico-cultural edificado no centro<br />

do Rio de Janeiro, dadas as limitações do marco regulatório das APACs e ausência<br />

de tombamentos do Iphan sobre os conjuntos urbanos, traz o risco de desarticulação<br />

do próprio patrimônio, enquanto repertório simbólico diversificado, porque os<br />

processos de reciclagem em curso nessas áreas supervalorizam a projeção e<br />

valorização do ambiente urbano no imaginário sócio-cultural, pondo de lado, muitas<br />

vezes, a sua condição de suporte da memória social, de referência cultural e base dos<br />

processos de construção das identidades coletivas (MESENTIER, op.cit.).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!