rachel freire barrón torrez centralidade na cidade ... - Ippur - UFRJ
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No início do Século XX, o modelo de embelezamento e saneamento é posto em<br />
prática no Brasil, primeiramente <strong>na</strong> <strong>cidade</strong> do Rio de Janeiro e depois em São Paulo. Quanto<br />
ao papel da <strong>centralidade</strong>, é importante destacar que os “centros se revelavam como lugares<br />
privilegiados para as intervenções, sempre no sentido de viabilizar o avanço do capital<br />
imobiliário e industrial” 177 . Até esse momento, a área central era o espaço mais valorizado da<br />
<strong>cidade</strong>, e tal posição refletia a sua função (urba<strong>na</strong>) de orientar a evolução da estrutura da<br />
<strong>cidade</strong>. Segundo Rabha (2006), “ainda assim persistia uma organização espacial que gravitava<br />
ao redor de seu centro histórico, simbólico e de negócios”. Desta forma, as transformações<br />
pelas quais passou o centro expressavam o novo momento da organização social, no contexto<br />
carioca, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Segundo Rodrigues, a articulação de forças (no âmbito fi<strong>na</strong>nceiro e administrativo) se<br />
deu também inter<strong>na</strong>mente ao Poder Público. O remodelamento da capital e do seu centro foi<br />
fruto, portanto, da união entre Governo federal e municipal, cujo propósito era “tor<strong>na</strong>r a<br />
capital fi<strong>na</strong>lmente uma <strong>cidade</strong> cosmopolita, pronta a favorecer os investimentos estrangeiros e<br />
os novos setores burgueses emergentes com a República” 178 .<br />
No Rio, então Capital Federal, o presidente Rodrigues Alves incumbia ao Prefeito<br />
Pereira Passos de promover programas e projetos de intervenção, <strong>na</strong> busca por uma<br />
nova imagem para o país [...] o centro carioca, portanto, passaria a ser o local<br />
privilegiado das intervenções gover<strong>na</strong>mentais e território de implementação do<br />
modelo viabilizador das novas práticas econômicas e urbanísticas. As imagens<br />
perseguidas buscavam torná-lo atrativo, belo, moderno e funcio<strong>na</strong>l; conduziu-se<br />
fartas demolições de edificações insalubres assim como inúmeras outras obras de<br />
“embelezamento”. Implantava-se desde programas de saúde pública, comandados<br />
por Oswaldo Cruz, até inúmeras obras públicas de porte. Os bairros da área portuária<br />
foram palco da famosa revolta da vaci<strong>na</strong> e o tecido do centro foi rasgado pela<br />
construção da larga e elegante avenida central, ladeado por prédios que <strong>na</strong>da iriam<br />
dever a seus pares europeus. Construiu-se um novo porto, áreas e armazéns de<br />
apoio, prontos para a importação e a exportação de um crescente mercado<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lizado e competitivo (DEL RIO, op.cit., p.56).<br />
Destaca-se, portanto, o caráter elitista da modernização do centro. De outra forma: a<br />
“nova” <strong>cidade</strong> não desejava conviver com a “velha”. A remodelação da área central expulsava<br />
os pobres do espaço público e transformava a rua em “espetáculo”. Contribuíram para este<br />
processo a hierarquização dos espaços públicos por meio do controle urbanístico rígido em<br />
torno da construção civil e das “velhas usanças” 179 , e os avanços tecnológicos que construíram<br />
177 DEL RIO, op.cit., p.55.<br />
178 RODRIGUES, op.cit., p.41.<br />
179 RODRIGUES, op.cit. Segundo Rabha (2006), “Não é ainda possível esquecer os atos administrativos<br />
baixados pela Prefeitura que incluíam um rígido esquema de novas posturas urba<strong>na</strong>s. Assim, passava a ser<br />
proibida a circulação <strong>na</strong> <strong>cidade</strong> de pessoas descalças e sem camisa, a permanência de cães ou o passeio de vacas