rachel freire barrón torrez centralidade na cidade ... - Ippur - UFRJ
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O processo de expansão da <strong>cidade</strong>, mediante a crescente incorporação de novas<br />
áreas à malha urba<strong>na</strong>, manifestou-se <strong>na</strong> formação de bairros residenciais e<br />
industriais dissociados da área central. Assim, no início do Século XX, o Rio de<br />
Janeiro apresentava-se <strong>na</strong> forma dicotômica núcleo-periferia, com uma área central<br />
praticamente delineada nos limites da ‘<strong>cidade</strong> velha’, hoje conhecida simplesmente<br />
como ‘<strong>cidade</strong>’ (ou ‘centro’). No entanto, ali permaneceram usos e atividades<br />
considerados indesejáveis para uma <strong>cidade</strong> moder<strong>na</strong>, principalmente os inúmeros e<br />
frágeis cortiços (ABREU, 1987, p.59).<br />
O velho centro da <strong>cidade</strong>, herdado do período colonial, reunia as freguesias da<br />
Candelária, de Santa<strong>na</strong>, Santo Antônio, Sacramento, Santa Rita e São José e, juntas,<br />
representavam, tanto para as elites como para o Estado, um entrave ao desenvolvimento<br />
capitalista. Os motivos estavam interligados e se baseavam: no caráter estreito e muitas vezes<br />
sinuoso das ruas que geravam congestio<strong>na</strong>mentos; no deslocamento das classes abastadas em<br />
direção aos bairros de Botafogo, Catete, Glória, “Cidade Nova”, São Cristóvão e Engenho<br />
Velho; <strong>na</strong> presença de uma população miserável composta por homens livres, escravos de<br />
ganho, imigrantes internos e estrangeiros; e no crescimento populacio<strong>na</strong>l da população<br />
acompanhado por uma crise habitacio<strong>na</strong>l que, reunidos, direcio<strong>na</strong>vam a população pobre para<br />
as habitações coletivas (cortiços, estalagens, casas de cômodo) <strong>na</strong> área central. “Mal<br />
conservadas, insalubres e superlotadas, estas habitações eram apontadas como verdadeiros<br />
focos de doenças” 175 .<br />
Portanto, sob este olhar da chamada “Medici<strong>na</strong> Social”, e outro menos explícito por<br />
parte das elites, o de que estes lugares também eram potenciais para revoltas populares, o<br />
discurso higienista se legitima a partir da segunda metade do Século XIX, relacio<strong>na</strong>do a um<br />
quadro político-ideológico, econômico e social dissemi<strong>na</strong>dor do desenvolvimento e da<br />
modernização capitalista 176 .<br />
No discurso das elites, a posição que o país agora ocupava <strong>na</strong> divisão inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
do trabalho exigia uma nova capital. A modernização crescente da economia urba<strong>na</strong><br />
não condizia com uma área central ainda tipicamente colonial, com ruas estreitas e<br />
sombrias; onde se misturavam usos e classes sociais diversos; onde os edifícios<br />
públicos e empresariais estavam ao lado de cortiços. Não condizia também com a<br />
ausência de avenidas largas e dos prédios suntuosos que cada vez mais<br />
proporcio<strong>na</strong>vam status à rival plati<strong>na</strong>. Era preciso acabar com a imagem de que o<br />
Rio de Janeiro era sinônimo de epidemias, de insalubridade, e transformá-lo num<br />
verdadeiro símbolo do ‘novo Brasil’ (ABREU, op.cit., p.125-126).<br />
175 RODRIGUES, op.cit., p.41.<br />
176 RODRIGUES, loc. cit.