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Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...

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Outrossim, para o jurista austríaco, <strong>de</strong>veria ser elimina<strong>do</strong> <strong>da</strong> Teoria<br />

<strong>do</strong> Direito não somente o momento causal, mas ain<strong>da</strong> o teleológico, isto<br />

é, para a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> norma seria indiferente a realização <strong>do</strong> seu fim. Para<br />

além disso: o senti<strong>do</strong> mesmo <strong>da</strong> norma só existiria enquanto houvesse a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que não ocorresse o que ela man<strong>da</strong>, sob pena <strong>de</strong> transformar-se<br />

numa lei natural explicativa.<br />

Para Kelsen, portanto, o jurista <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar os fatos apenas sob<br />

o ângulo <strong>da</strong> sua coincidência ou não com o conteú<strong>do</strong> <strong>da</strong> norma, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar sua sucessão causal ou mesmo sua ínsita finali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nas<br />

suas palavras, “a ciência jurídica, com efeito, não preten<strong>de</strong>, com as proposições<br />

jurídicas por ela formula<strong>da</strong>s, mostrar a conexão causal, mas a<br />

conexão <strong>de</strong> imputação entre os elementos <strong>do</strong> seu objeto”. 6<br />

Com a dissociação feita entre o Direito e a Moral, Kelsen alu<strong>de</strong> a<br />

norma fun<strong>da</strong>mental (grundnorm) como fun<strong>da</strong>mento pressuposto <strong>de</strong><br />

vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Constituição, última norma jurídica positiva. Kelsen sugere que<br />

a Constituição seja suposta como váli<strong>da</strong> em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa norma fun<strong>da</strong>mental<br />

pressuposta, em razão <strong>da</strong> qual os legisla<strong>do</strong>res constituintes foram<br />

investi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r legítimo <strong>de</strong> editar a Constituição. Assim, as normas<br />

constitucionais <strong>de</strong>veriam ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s váli<strong>da</strong>s pelo só fato <strong>de</strong> constarem<br />

<strong>da</strong> Constituição. 7<br />

Tais concepções promovem uma leitura <strong>do</strong> Direito não como norma,<br />

mas como or<strong>de</strong>namento, como sistema, a saber: como conjunto <strong>de</strong><br />

normas formalmente coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s e conecta<strong>da</strong>s entre si. Pela ótica kelseniana,<br />

seria impossível <strong>de</strong>scobrir a natureza <strong>do</strong> direito a partir <strong>do</strong> exame<br />

<strong>de</strong> uma norma jurídica atomiza<strong>da</strong>, eis que a característica fun<strong>da</strong>mental<br />

<strong>do</strong> sistema jurídico é a coerência, o caráter completo e uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mento<br />

<strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Kelsen vê o Direito como um or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> tipo dinâmico, cujas<br />

normas não estão conecta<strong>da</strong>s em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu conteú<strong>do</strong>, como ocorre<br />

com as normas morais, <strong>de</strong> tipo estático. 8 As normas jurídicas se consi<strong>de</strong>ram<br />

váli<strong>da</strong>s se edita<strong>da</strong>s por uma autori<strong>da</strong><strong>de</strong> competente <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

uma norma superior. O Direito, assim, é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estrutura hierárquica e<br />

regula sua própria criação.<br />

6 Ibi<strong>de</strong>m, p. 100.<br />

7 Ibi<strong>de</strong>m, p. 225.<br />

8 Ibi<strong>de</strong>m, p. 219.<br />

128<br />

R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 125-144, out.-<strong>de</strong>z. 2011

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