Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
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histórico, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> e pouco importante <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Durkheim a judiciosa<br />
premissa que ele sustenta sobre a estreita relação entre Direito e morali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social. Tal premissa merece ser analisa<strong>da</strong>, discuti<strong>da</strong>; e não ignora<strong>da</strong>.<br />
E é o que se busca fazer a seguir.<br />
É curioso, mas outra não parece ser a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>: ao eleger as normas<br />
jurídicas como reflexo concreto, observável e seguro <strong>da</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social, ou seja, ao elegê-las cren<strong>do</strong> encontrar nelas um <strong>da</strong><strong>do</strong> empírico,<br />
Durkheim acaba por i<strong>de</strong>alizar o processo <strong>de</strong> formação político-jurídica<br />
<strong>de</strong>ssas mesmas normas, especialmente nas ditas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s complexas.<br />
Cogitemos, inicialmente, <strong>de</strong> uma questão preliminar, que já <strong>de</strong>nota<br />
certa i<strong>de</strong>alização. Supon<strong>do</strong>-se, por hipótese, que o Direito reflita fi<strong>de</strong>dignamente<br />
a morali<strong>da</strong><strong>de</strong> social, <strong>de</strong>vemos in<strong>da</strong>gar, <strong>de</strong> qualquer mo<strong>do</strong>, antes<br />
<strong>do</strong> mais, <strong>de</strong> que “Direito” estamos falan<strong>do</strong>? Do Direito posto ou <strong>do</strong> Direito<br />
aplica<strong>do</strong> pelos juízes? A diferença é tão importante que gerou acesa<br />
controvérsia nos meios jurídicos <strong>do</strong> oci<strong>de</strong>nte durante boa parte <strong>do</strong> século<br />
XX, opon<strong>do</strong>, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, a corrente <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> positivismo jurídico, que<br />
<strong>de</strong>fine o Direito a partir <strong>da</strong> norma posta pelo Esta<strong>do</strong> ou pelos costumes,<br />
e, <strong>de</strong> outro, a corrente <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> realismo jurídico, que <strong>de</strong>fine o Direito<br />
a partir <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos tribunais às normas positiva<strong>da</strong>s (Bobbio:<br />
2005, p. 58-68).<br />
Durkheim opta claramente pelo Direito posto, e não pelo aplica<strong>do</strong>,<br />
ao estabelecer sua clivagem meto<strong>do</strong>lógica <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a pre<strong>do</strong>minância,<br />
numa <strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> normas jurídicas repressivas ou restitutivas.<br />
Normas, entretanto, não são o mesmo que <strong>de</strong>cisões; e nem sempre<br />
as primeiras estão refleti<strong>da</strong>s fielmente nas segun<strong>da</strong>s.<br />
Essa opção meto<strong>do</strong>lógica traz, <strong>de</strong> início, alguns inconvenientes e<br />
i<strong>de</strong>alizações. Primeiro, o <strong>de</strong> preferir, como objeto <strong>de</strong> análise sociológica,<br />
a obra jurídica <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> e abstrata <strong>de</strong> algumas poucas mentes privilegia<strong>da</strong>s<br />
(os projetistas <strong>de</strong> códigos) à análise <strong>da</strong> obra diuturna e concreta <strong>de</strong><br />
magistra<strong>do</strong>s e advoga<strong>do</strong>s. 12 Segun<strong>do</strong>, o <strong>de</strong> supor uma representativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
política i<strong>de</strong>al <strong>da</strong> população no Parlamento, como se os parlamentares que<br />
12 É claro que qualquer opção meto<strong>do</strong>lógica traria inconvenientes; no entanto, especialmente para a análise <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s complexas, on<strong>de</strong> o intercâmbio e a importação <strong>de</strong> legislações são uma prática comum, geran<strong>do</strong> muitas<br />
semelhanças no âmbito <strong>do</strong> Direito posto, pareceria mais aconselhável, para os fins a que se propõe Durkheim, analisar<br />
o mo<strong>do</strong> como são aplica<strong>da</strong>s essas mesmas normas jurídicas aos casos concretos, sob pena <strong>de</strong> se encontrarem<br />
mais similitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> que realmente existem.<br />
R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 179-192, out.-<strong>de</strong>z. 2011 187