Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
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proporção. Portanto, po<strong>de</strong>mos estar certos <strong>de</strong> encontrar refleti<strong>da</strong>s<br />
no direito to<strong>da</strong>s as varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s essenciais <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social. 10<br />
Empreen<strong>de</strong>r, em certa medi<strong>da</strong>, uma análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir<br />
<strong>do</strong> Direito em vigor: é o que Durkheim propõe. Propõe, mais especificamente,<br />
verificar, a partir <strong>da</strong>s normas jurídicas vigentes em ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
as variantes <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> social, a fim <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à questão<br />
que norteia a obra sob análise: há algum tipo especial <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> qual a divisão <strong>do</strong> trabalho social seja a causa? Já foi dito e antecipa<strong>do</strong>:<br />
há sim. Apenas não foi individua<strong>da</strong> a espécie: trata-se <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
especial a que Durkheim <strong>de</strong>nomina soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> orgânica, em<br />
oposição à soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> mecânica – essa última típica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
simples ou primitivas.<br />
A esta altura, para reflexão sociológica e jurídica, já se po<strong>de</strong>ria propor<br />
a questão que justifica este ensaio, e que será objeto <strong>da</strong> próxima seção:<br />
é o Direito, como o compreen<strong>de</strong> Durkheim, um reflexo confiável <strong>da</strong><br />
morali<strong>da</strong><strong>de</strong> social vigente?<br />
Dessa questão outras tantas po<strong>de</strong>m advir, inclusive sobre a relevância<br />
atual <strong>do</strong> tema (cf. Consi<strong>de</strong>rações finais), mas não é hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
o raciocínio, porque nosso autor tem mais a dizer sobre a forma como<br />
concebe o Direito e suas normas.<br />
Tenaz em seu rigor científico, Durkheim procura expurgar <strong>de</strong> sua<br />
análise <strong>de</strong>sse símbolo visível <strong>da</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong> social – que, para ele, é o Direito<br />
– qualquer outra classificação <strong>da</strong>s normas jurídicas que não seja feita<br />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a sanção que lhes é correspon<strong>de</strong>nte. Isso por duas razões:<br />
(a) porque to<strong>do</strong> preceito <strong>de</strong> direito é correlato a uma regra sanciona<strong>da</strong> e<br />
(b) porque as sanções variam <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> preceito, ao<br />
papel que <strong>de</strong>sempenha na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. E conclui: há <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> sanções,<br />
em Direito; <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, apresentam-se as sanções repressivas, que implicam<br />
o sofrimento <strong>do</strong> agente e são típicas <strong>da</strong>s normas <strong>de</strong> Direito Penal;<br />
<strong>de</strong> outro, as sanções restitutivas, que visam à reparação <strong>da</strong>s coisas e são<br />
típicas <strong>do</strong> Direito Civil, Comercial, Administrativo etc.<br />
Assim, a única classificação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente científica <strong>da</strong>s normas<br />
jurídicas é aquela que as divi<strong>de</strong> em normas repressivas e normas<br />
restitutivas.<br />
10 DURKHEIM, É. Op. Cit., 2004, p. 32-3.<br />
R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 179-192, out.-<strong>de</strong>z. 2011 183