Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A partir <strong>da</strong> 2ª edição <strong>do</strong> seu Teoria Pura <strong>do</strong> Direito, em 1960,<br />
Kelsen passa a cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong> tema <strong>da</strong> interpretação, fazen<strong>do</strong> distinção entre<br />
a autêntica e científica. 9 Enquanto esta última se refere às proposições,<br />
isto é, às interpretações <strong>do</strong>s <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res, a primeira, única <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
vali<strong>da</strong><strong>de</strong> e eminentemente política, seria a <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo juiz ao criar a norma<br />
individual para o caso.<br />
Com efeito, Kelsen enxerga a <strong>de</strong>cisão judicial apenas como a continuação<br />
<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> criação jurídica, conferin<strong>do</strong>-lhe caráter normativo:<br />
a norma individual (sentença) vale na medi<strong>da</strong> em que se ajusta a norma<br />
superior cria<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s órgãos encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> concretizar o or<strong>de</strong>namento.<br />
A vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> norma individual não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com o<br />
conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma norma geral superior e, acaso não extirpa<strong>da</strong> <strong>do</strong> universo<br />
jurídico pelo meio indica<strong>do</strong> pelo or<strong>de</strong>namento, é plenamente váli<strong>da</strong> e<br />
<strong>de</strong>ve ser cumpri<strong>da</strong> e aplica<strong>da</strong>.<br />
Assinala Kelsen:<br />
Mas autêntica, isto é, cria<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Direito é a interpretação<br />
feita através <strong>de</strong> um órgão aplica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Direito ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong><br />
cria Direito apenas para um caso concreto, quer dizer, quan<strong>do</strong><br />
esse órgão apenas crie uma norma individual ou execute uma<br />
sanção. A propósito importa notar que, pela via <strong>da</strong> interpretação<br />
autêntica, quer dizer, <strong>da</strong> interpretação <strong>de</strong> uma norma<br />
pelo órgão jurídico que a tem <strong>de</strong> aplicar, não somente se realiza<br />
uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s revela<strong>da</strong>s pela interpretação cognoscitiva<br />
<strong>da</strong> mesma norma, como também se po<strong>de</strong> produzir<br />
uma norma que se situe completamente fora <strong>da</strong> moldura que<br />
a norma a aplicar representa 10 .<br />
Para o mo<strong>de</strong>lo kelseniano, portanto, a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão judicial<br />
se assenta tão somente no fato <strong>de</strong> haver si<strong>do</strong> proferi<strong>da</strong> por quem<br />
<strong>de</strong>tinha competência segun<strong>do</strong> o or<strong>de</strong>namento jurídico. A interpretação<br />
estaria, <strong>de</strong>ssa maneira, fora <strong>da</strong> ciência <strong>do</strong> Direito, pois correspon<strong>de</strong>ria a<br />
um ato político <strong>do</strong> juiz, alheio ao campo científico <strong>do</strong> Direito e pertencente<br />
ao mun<strong>do</strong> <strong>da</strong> prática jurídica.<br />
9 Ibi<strong>de</strong>m, p. 387.<br />
10 Ibi<strong>de</strong>m, p. 394.<br />
R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 125-144, out.-<strong>de</strong>z. 2011 129