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Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...

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<strong>de</strong>veres <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> boa-fé “participarão <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> jurídico <strong>da</strong> relação,<br />

assim como participa <strong>de</strong>sse mesmo conteú<strong>do</strong> to<strong>da</strong> normativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

legal (em senti<strong>do</strong> estrito) não <strong>de</strong>clara<strong>da</strong> ou queri<strong>da</strong> pelas partes.” 65<br />

Com isso, tem-se que uma vez percebi<strong>da</strong> qualquer <strong>da</strong>s hipóteses<br />

caracteriza<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> ruptura antecipa<strong>da</strong>, em razão <strong>de</strong>sse arcabouço <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres<br />

correlaciona<strong>do</strong>s à boa-fé, o cre<strong>do</strong>r terá direito a pleitear a resolução<br />

<strong>do</strong> negócio. Conforme explica JUDITH MARTINS-COSTA: “Trata-se, pois,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s comportamentos, impostos pela<br />

boa-fé, ten<strong>do</strong> em vista o fim <strong>do</strong> contrato, em razão <strong>da</strong> relação <strong>de</strong> objetiva<br />

confiança que o contrato fun<strong>da</strong>menta”. 66 .<br />

Mais ain<strong>da</strong>, a aplicação <strong>da</strong> teoria <strong>do</strong> inadimplemento antecipa<strong>do</strong><br />

também se justificaria em razão <strong>do</strong> princípio <strong>da</strong> confiança entre as partes<br />

contratantes. Com efeito, tem-se que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong>, a<br />

relação obrigacional será sempre pauta<strong>da</strong> na boa-fé e na confiança mútua,<br />

se justifican<strong>do</strong> a antecipação <strong>do</strong> termo nas hipóteses em que o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r<br />

atuar <strong>de</strong> maneira contrária às legítimas expectativas <strong>da</strong> contraparte — tal<br />

como no caso <strong>do</strong> inadimplemento antecipa<strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com a <strong>do</strong>utrina portuguesa, são quatro os requisitos<br />

para a proteção <strong>da</strong> confiança, os quais se articulam entre si sem que haja<br />

uma hierarquia. São eles: “1º Uma situação <strong>de</strong> confiança, conforme com<br />

o sistema e traduzi<strong>da</strong> na boa fé subjectiva e ética, própria <strong>da</strong> pessoa que,<br />

sem violar os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> que ao caso caibam, ignore estar a lesar<br />

posições alheias; 2º Uma justificação para essa confiança, expressa na presença<br />

<strong>de</strong> elementos objectivos capazes <strong>de</strong>, em abstracto, provocarem uma<br />

crença plausível; 3º Um investimento <strong>de</strong> confiança, consistente em, <strong>da</strong><br />

parte <strong>do</strong> sujeito, ter havi<strong>do</strong> um assentar efectivo <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s jurídicas<br />

sobre a crença consubstancia<strong>da</strong>; 4º A imputação <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> confiança<br />

cria<strong>da</strong> à pessoa que vai ser atingi<strong>da</strong> pela protecção <strong>da</strong><strong>da</strong> ao confiante: tal<br />

pessoa, por ação ou omissão, terá <strong>da</strong><strong>do</strong> lugar à entrega <strong>do</strong> confiante em<br />

causa ou ao factor objetivo que a tanto conduziu.” 67 Percebe-se, portanto,<br />

que a partir <strong>do</strong> momento em que o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r se comporta <strong>de</strong> maneira<br />

contrária à confiança gera<strong>da</strong> pelo contrato firma<strong>do</strong> com a contraparte,<br />

65 op. cit., p. 54.<br />

66 A Boa-Fé no Direito Priva<strong>do</strong>: sistema e tópica no processo obrigacional, Revista <strong>do</strong>s Tribunais, São Paulo, 1999,<br />

p. 449.<br />

67 MENEZES CORDEIRO, António, Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Direito Civil Português, v. I, Tomo I, 2ª Edição, Almedina, Coimbra,<br />

2000, p. 235.<br />

166<br />

R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 145-172, out.-<strong>de</strong>z. 2011

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