Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Percebem-se niti<strong>da</strong>mente, no pensamento <strong>do</strong> autor, influências<br />
<strong>do</strong> positivismo <strong>de</strong> August Comte 3 , traços evolucionistas 4 , e, o que é<br />
mais importante para sua compreensão, marca<strong>da</strong> posição em favor <strong>do</strong><br />
que se convencionou chamar, posteriormente, <strong>de</strong> coletivismo meto<strong>do</strong>lógico<br />
5 .<br />
O coletivismo meto<strong>do</strong>lógico e a influência positivista, em especial,<br />
estão refleti<strong>do</strong>s na importante noção <strong>de</strong> fato social, cunha<strong>da</strong> por<br />
Durkheim 6 em resposta aos anseios <strong>de</strong> objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>puração <strong>do</strong><br />
conhecimento sociológico, que sempre nortearam seus trabalhos.<br />
Os fatos sociais representam o objeto específico, particular, <strong>da</strong> Sociologia.<br />
São constituí<strong>do</strong>s por mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensar, agir e sentir, cuja singulari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
resi<strong>de</strong> em existirem fora <strong>da</strong>s consciências individuais; são, portanto,<br />
exteriores aos indivíduos, mas, além disso, são também coercitivos.<br />
Exteriores, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que atuam sobre as consciências individuais<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong>; coercitivos, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que exercem<br />
sobre os indivíduos uma tal força, uma tal constrição, que impõem a<br />
sua conformação com as regras sociais que lhes transcen<strong>de</strong>m, sob pena<br />
<strong>de</strong> sanções <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s naturezas.<br />
Um bom exemplo <strong>de</strong> fato social é a língua pre<strong>do</strong>minante em ca<strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: ela in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> conjuntural <strong>do</strong>s indivíduos e se lhes<br />
impõe.<br />
3 Dentre os muitos pontos <strong>de</strong> contato com os pressupostos <strong>do</strong> positivismo, <strong>de</strong>stacam-se <strong>do</strong> pensamento durkheimiano<br />
os seguintes: a reflexão científica <strong>de</strong>ve partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sensível e o conhecimento científico é neutro. Cf.,<br />
com breve exposição <strong>da</strong> classificação usual <strong>da</strong>s teorias sociológicas e, em caráter propositivo, com uma perspectiva<br />
classificatória própria, MELLO Marcelo P. "Vertentes <strong>do</strong> pensamento sociológico empirista e naturalista e algumas<br />
razões para se duvi<strong>da</strong>r <strong>de</strong>las". In: Sociologia e direito: exploran<strong>do</strong> as interseções. Niterói: PPGSD, 2007, p. 9-37.<br />
4 Não são raras as referências <strong>do</strong> autor a graus hierarquiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: <strong>da</strong>s simples (ou, como ele mesmo<br />
<strong>de</strong>nomina, primitivas), às complexas. As transformações sociais obe<strong>de</strong>ceriam, portanto, a um processo evolutivo<br />
<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> o lugar <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça não é a revolução, mas a evolução. V. GIDDENS, A. apud SOUZA, Ricar<strong>do</strong><br />
Luiz. "Normas morais, mu<strong>da</strong>nças sociais e individualismo segun<strong>do</strong> Durkheim". In: Confluências. Niterói: PPGSD, nov.<br />
2007, v. 9.2, p. 72.<br />
5 Em oposição ao individualismo meto<strong>do</strong>lógico, que tem em Hobbes um <strong>de</strong> seus mais notórios <strong>de</strong>fensores, Durkheim<br />
postula que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> é uma espécie <strong>de</strong> sujeito transcen<strong>de</strong>nte e sui generis, maior <strong>do</strong> que a soma <strong>do</strong>s indivíduos<br />
que a compõem e modula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> suas relações sociais; para ele, “a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>termina tu<strong>do</strong>: a divisão <strong>do</strong> trabalho,<br />
o crime, o suicídio, as formas <strong>de</strong> classificação, a religião e as <strong>de</strong>mais representações coletivas” (...), que “na<strong>da</strong><br />
mais significam em si mesmos; eles encontram as razões <strong>de</strong> sua existência na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar ou projetar<br />
a existência <strong>da</strong> própria socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (p. 157). VARGAS, Eduar<strong>do</strong> V. "Durkheim e o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> sociologia". In: Antes<br />
Tar<strong>de</strong> <strong>do</strong> que nunca: Gabriel Tar<strong>de</strong> e a emergência <strong>da</strong>s ciências sociais. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Contracapa/FAFICH/UFMG,<br />
2000, p. 129-161.<br />
6 A noção <strong>de</strong> fato social foi exposta em DURKHEIM, É. As regras <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> sociológico. São Paulo: Nacional, 1963.<br />
Para uma síntese sobre o tema, cf. DURKHEIM, E. "O que é fato social?" In: Rodrigues, José Albertino (org.). Émile<br />
Durkheim. São Paulo: Ática, 1988, p. 46-52.<br />
180<br />
R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 179-192, out.-<strong>de</strong>z. 2011