Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Diretoria da EMERJ - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>do</strong>s, uma vez aprova<strong>da</strong>s (A. Moreno López). Salienta este jurista espanhol<br />
que a Carta é essencialmente uma constituição e só instrumentalmente<br />
um trata<strong>do</strong>.<br />
Diante <strong>de</strong>sse fato, ou seja, a similitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> ONU com as<br />
Constituições estatais, é que os <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res têm procura<strong>do</strong> assimilar a<br />
organização a uma <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> conheci<strong>da</strong>s. Entretanto, po<strong>de</strong>mos<br />
assinalar que ela não se enquadra a nenhuma <strong>de</strong>las. Por exemplo, não<br />
existe confe<strong>de</strong>ração mundial, e algumas <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões <strong>da</strong> ONU são obrigatórias<br />
para os Esta<strong>do</strong>s, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> “ratificação” ou “aceitação”,<br />
como é o caso <strong>do</strong> orçamento. A ONU não po<strong>de</strong> ser compara<strong>da</strong> a um<br />
Esta<strong>do</strong>, uma vez que ela não preten<strong>de</strong> alcançar os fins a que se <strong>de</strong>stinam<br />
os Esta<strong>do</strong>s, como, por exemplo, uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> política. Além disso, ambos<br />
possuem elementos constitutivos distintos. Talvez a melhor posição seja<br />
a <strong>de</strong> Quadri, ao falar em núcleo <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ração, isto é, um ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong><br />
para um fe<strong>de</strong>ralismo. Entretanto, o fe<strong>de</strong>ralismo nos parece ser ain<strong>da</strong> uma<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira miragem na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional, entendi<strong>da</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong><br />
global. A ONU é simplesmente uma organização internacional, intergovernamental.<br />
Esta é sua natureza jurídica. Não há qualquer vantagem em<br />
procurar assimilá-la a uma forma <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> já existente, à qual ela só se<br />
a<strong>da</strong>ptará com certos argumentos força<strong>do</strong>s. MELLO, (2004).<br />
Outra questão a ser analisa<strong>da</strong> é o princípio <strong>do</strong> nullem crimen sine<br />
lege, ou seja, não há crime sem lei anterior que o <strong>de</strong>fina. A norma que<br />
incorporou o Estatuto <strong>de</strong> Roma ao direito brasileiro é um Decreto, emana<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, que foi previamente aprova<strong>do</strong> no Congresso<br />
Nacional mediante Decreto Legislativo. Ora, o art. 5º XXXIX, <strong>da</strong><br />
CR/88, <strong>de</strong>termina que para uma conduta ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> crime, é necessário<br />
uma lei formal anterior que <strong>de</strong>fina como típico aquele comportamento.<br />
Assim sen<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>ria um Decreto Presi<strong>de</strong>ncial ou um Decreto<br />
Legislativo tipificar crimes?<br />
Segun<strong>do</strong> a professora Flávia Piovesan, o Trata<strong>do</strong>, após a aprovação<br />
pelo Congresso Nacional e posterior Decreto <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, é<br />
incorpora<strong>do</strong> ao Direito brasileiro como Lei Ordinária. To<strong>da</strong>via, se o Trata<strong>do</strong><br />
Internacional versar sobre direitos humanos, ingressará como norma materialmente<br />
constitucional por força <strong>do</strong> art. 5º, § 3º, <strong>da</strong> CR/88. PIOVESAN<br />
(2007). Mas, em Direito Penal <strong>de</strong>ve ser aplica<strong>do</strong> o princípio <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
estrita, ou seja, somente a lei em senti<strong>do</strong> formal po<strong>de</strong> tipificar crimes.<br />
R. <strong>EMERJ</strong>, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, v. 14, n. 56, p. 57-71, out.-<strong>de</strong>z. 2011 69