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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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comprasse cigarros também.

Então, com os sorvetes, começamos a percorrer casualmente a piazzetta

lotada, caminhando devagar por uma rua, depois por outra, e por outra. Eu

gostava quando os paralelepípedos brilhavam no escuro, gostava de como ela

e eu caminhávamos devagar com as bicicletas, ouvindo as conversas abafadas

das TVs que vinham das janelas abertas.

A livraria ainda estava aberta, e perguntei se ela se importava. Não, ela não se

importava, podia entrar comigo. Encostamos as bicicletas no muro. O som da

esvoaçante cortina de contas revelou uma loja esfumaçada repleta de

cinzeiros cheios até a boca. O dono pensava em fechar logo, mas o quarteto

de Schubert ainda estava tocando e um casal de vinte e poucos anos, turistas,

olhava os romances na seção de língua inglesa, provavelmente procurando

por algum que tivesse a atmosfera local. Como era diferente daquela manhã

em que não havia uma alma por ali e a luz forte do sol e o cheiro de café

fresco tomavam conta da loja. Marzia ficou olhando por cima do meu ombro

quando peguei um livro de poesia da mesa e comecei a ler um dos poemas.

Estava prestes a virar a página quando ela disse que não tinha terminado de

ler. Gostei disso. Percebendo que o casal ao nosso lado ia comprar um

romance italiano traduzido, interrompi a conversa e aconselhei que não o

fizessem.

— Este é muito, muito melhor. É ambientado na Sicília, não aqui, mas deve

ser o melhor romance italiano do século.

— Nós assistimos ao filme — disse a mulher. — É tão bom quanto Calvino,

não é? Dei de ombros. Marzia ainda estava interessada no mesmo poema, que

agora relia.

— Calvino não é nada em comparação… Mas sou só um garoto, quem sou eu

para dizer? Dois outros jovens, usando paletós elegantes, sem gravata,

discutiam sobre literatura com o dono, os três fumavam. Na mesa ao lado do

caixa, havia várias taças de vinho quase vazias e, perto delas, uma grande

garrafa de vinho do porto. Os turistas, percebi, seguravam taças vazias.

Obviamente tinham oferecido vinho a eles durante a festa. O dono olhou para

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