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Agora eu estava dentro do quarto.
Ele estava sentado na cama, pernas cruzadas. Parecia menor, mais jovem, eu
estava ao pé da cama, desajeitado, sem saber o que fazer com as mãos. Ele
deve ter percebido minha dificuldade quando as coloquei no quadril, depois
no bolso, e no quadril de novo.
Estou parecendo ridículo, pensei. Aquilo e o quase abraço que contive e que
esperava que ele não tivesse percebido.
Eu me sentia uma criança que estava sozinha pela primeira vez com o
professor na sala de aula.
— Venha, sente.
Ele estava se referindo à cadeira ou à cama? Sem saber o que fazer, me
abaixei e sentei de frente para ele, pernas cruzadas também, como se fosse o
protocolo aceito entre homens que se encontravam à meia-noite. Eu me
certifiquei de que nossos joelhos não se tocassem. Porque ele se incomodaria
se isso acontecesse, e se incomodaria com o abraço, como se incomodou
quando, em busca de uma maneira mais clara de demonstrar que eu queria
ficar um pouco mais no penhasco, coloquei minha mão em sua genitália.
Mas, antes que eu tivesse a chance de exagerar a distância entre nós, me senti
como se tivesse sido lavado pela água que desce a vitrine da floricultura,
como se ela removesse toda a minha vergonha e todas as minhas inibições.
Nervoso ou não, eu não queria mais examinar minuciosamente cada um de
meus impulsos. Se eu for burro, que eu seja burro. Se tocar seu joelho, que
toque seu joelho. Se quiser abraçar, vou abraçar. Eu precisava me apoiar em
alguma coisa, então me arrastei até a cabeceira e me encostei ao lado dele.
Olhei para a cama. Eu via claramente agora. Era ali que passaria tantas noites
sonhando com aquele momento. Aqui estava eu. Em algumas semanas,
estaria de volta à mesma cama. Acenderia o abajur de Oxford e me lembraria
de ter ficado na varanda ouvindo o barulho de seus pés procurando pelos
chinelos. Fiquei me perguntando se a lembrança traria tristeza. Ou vergonha.