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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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A palavra “amizade” me vinha à mente. Mas a amizade, como os outros a

definiam, me era estranha, algo inculto que não me importava.

O que posso ter desejado, do segundo em que ele saiu do táxi até a despedida

em Roma, talvez tenha sido o que todos os seres humanos pedem uns aos

outros, o que torna a vida viável. Teria que vir dele primeiro. Só então talvez

viesse de mim.

Existe uma lei em algum lugar que diz que, quando uma pessoa está

completamente apaixonada pela outra, a outra deve inevitavelmente se

apaixonar também. Amor ch’a null’amato amar perdona. Amor, que a

nenhum amado amar perdoa, palavras de Francesca no Inferno. Espere e

tenha esperança. Eu tinha esperança, embora talvez só quisesse mesmo

esperar. Esperar para sempre.

Sentado à mesa redonda, trabalhando em minhas transcrições durante aquelas

manhãs, não queria a amizade dele, não queria nada.

Só levantar a cabeça e encontrá-lo ali, protetor solar, chapéu de palha, calção

vermelho, limonada. Levantar a cabeça e encontrar você, Oliver.

Pois logo chegará o dia em que levantarei a cabeça e você não estará mais ali.

* * *

No fim da manhã, amigos e vizinhos das casas próximas costumavam

aparecer. Todos se reuniam em nosso jardim e saíam juntos em direção à

praia lá embaixo. Nossa casa era a mais próxima da água, era só abrir o

portãozinho junto à balaustrada e descer as escadas estreitas para estar nas

pedras. Chiara, uma das garotas que três anos antes era mais baixa do que eu

e no verão anterior não me deixava em paz, tinha desabrochado e agora era

uma mulher que finalmente dominava a arte de não me cumprimentar toda

vez que nos víamos. Um dia, ela e a irmã mais nova vieram com os outros,

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