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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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— Faccio io — disse ela, tentando tirar a faca da minha mão.

— No, no, faccio da me — respondi, tentando não ofendê-la.

Eu queria abri-lo ao meio e cortar os pedaços em pedaços menores, e então

esses pedaços em ainda menores. Até virarem átomos. Terapia.

Então peguei uma banana, descasquei devagar e comecei a cortar fatias

finíssimas, que depois piquei. Então um damasco. Uma pera. Tâmaras.

Então peguei a embalagem grande de iogurte na geladeira e despejei o

conteúdo e as frutas picadas no liquidificador. Finalmente, para obter um

pouco mais de cor, alguns morangos frescos colhidos do jardim. Eu amava o

ronronar do liquidificador.

Não era uma sobremesa com que Mafalda estivesse familiarizada, mas ainda

assim permitiria que eu fizesse as coisas do meu jeito na sua cozinha, sem

interferir, como se cedesse a alguém que já havia se magoado demais. A

desgraçada sabia. Ela deve ter visto o pé. Seus olhos me seguiam a cada

passo como se estivessem prontos para arrancar a faca da minha mão antes

que eu cortasse os pulsos.

Depois de bater minha mistura, despejei-a em um copo grande, joguei um

canudo como se fosse um dardo e fui para o pátio. No caminho, entrei na sala

e peguei o livro com as reproduções de Monet.

Coloquei-o em um banquinho perto da escada. Eu não ia mostrar o livro para

ele. Ia apenas deixar ali. Ele saberia.

No pátio, vi minha mãe bebendo chá com duas irmãs que tinham vindo de S.

jogar cartas. A quarta jogadora chegaria a qualquer momento.

Nos fundos, vindo da garagem, eu ouvia o motorista discutir sobre jogadores

de futebol com Manfredi.

Segurando minha bebida, fui até o limite do pátio, peguei uma

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