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deles ria.
À meia-noite não se ouvia nenhum barulho vindo do quarto dele.
Será que eu havia levado mais um bolo? Isso seria demais. Não tinha
escutado ele voltar, então era ele que deveria vir até o meu quarto. Ou eu
devia ir até o dele mesmo assim? Esperar seria uma tortura.
Vou até ele.
Saí para a varanda por um segundo e olhei na direção do quarto dele.
Nenhuma luz. Ia bater mesmo assim.
Ou eu podia esperar. Ou nem ir.
A ideia de não ir de repente era a coisa que eu mais queria na vida.
Ficava me puxando, chamando minha atenção suavemente, como alguém que
já tivesse sussurrado uma ou duas vezes enquanto eu dormia, mas, ao ver que
eu não acordava, finalmente batesse no meu ombro, e no momento isso me
incentivava a procurar por qualquer motivo para adiar a ida até o quarto de
Oliver naquela noite. O pensamento me invadiu como a água na vitrine da
floricultura, como uma loção calmante e refrescante que você passa depois do
banho ao fim de um dia inteiro no sol, ainda amando o sol, mas amando mais
o bálsamo. Como uma loção entorpecente, o pensamento passa primeiro
pelas suas extremidades e depois penetra no restante do corpo. Dando todo
tipo de argumento, a favor, contra, a começar pelos bobos — é muito tarde
para fazer qualquer coisa — até chegar nos mais importantes — como você
vai encarar os outros, como vai encarar a si mesmo? Por que eu não tinha
pensado nisso antes? Porque queria saborear e guardar para o final? Seria
pela vontade de que os argumentos surgissem por conta própria, sem que eu
tivesse que reuni-los e assim não fossem minha culpa? Não tente, não tente
isso, Elio. Era a voz do meu avô. Eu recebera o nome dele, e meu avô estava
falando comigo da mesma cama na qual tinha atravessado uma divisa muito
mais ameaçadora do que a que existia entre meu quarto e o de Oliver. Volte.
Quem sabe o que você vai encontrar naquele quarto? Não o tônico da