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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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incômodo. Ou será que a gratidão, por mais comedida que seja, sempre

carrega aquela dose extra de mel que dá a qualquer paixão mediterrânea a

inevitável característica sentimental e histriônica? Impossível deixar que as

coisas sigam seu curso, minimizá-las, é preciso exclamar, proclamar,

declamar.

Se não disser nada ele vai pensar que você se arrependeu de ter escrito.

Se disser qualquer coisa será exagerado.

O que fazer, então? Esperar.

Eu sabia disso desde o início. Só esperar. Trabalharia a manhã inteira.

Nadaria. Talvez jogasse tênis à tarde. Encontraria Marzia.

Voltaria à meia-noite. Não, onze e meia. Tomaria banho? Não, sem banho.

Ah, ir de uma cama para a outra.

Não era isso que ele também ia fazer? Ir de uma cama para a outra? Então um

pânico terrível tomou conta de mim: meia-noite seria uma conversa, um

esclarecimento… como quem diz se segura, alivia, vê se cresce! Mas por que

esperar até a meia-noite, então? Quem escolhe a meia- noite para ter uma

conversa dessa? Ou meia-noite seria meia-noite? Que roupa usar à meianoite?

* * *

O dia passou como eu temia. Oliver encontrou uma maneira de sair sem falar

comigo logo depois do café e não voltou até o almoço. Sentou no lugar de

sempre ao meu lado. Tentei puxar papo algumas vezes, mas percebi que seria

mais um daqueles dias em que não nos falávamos e os dois tentavam deixar

bem claro que o silêncio não era mais só fingimento.

Depois do almoço, fui tirar um cochilo. Ouvi Oliver subir e fechar a porta.

Mais tarde, liguei para Marzia. Nos encontramos na quadra de tênis.

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