12.03.2020 Views

Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PARTE 4

Canto-fantasma

Anchise estava esperando por mim na estação. Avistei-o logo que o trem fez

a extensa curva em volta da baía, diminuindo a velocidade e quase tocando os

ciprestes altos que eu tanto amava e através dos quais com frequência

flagrava uma sempre bem-vinda prévia do mar reluzente da tarde. Abri a

janela e deixei o vento soprar no meu rosto, avistando o vagão-motor a

distância. Chegar a B. sempre me deixava feliz. Sempre me fazia lembrar da

chegada no início de junho no fim do período escolar. O vento, o calor, a

plataforma cinza brilhante com a antiga cabine principal fechada

permanentemente desde a Primeira Guerra Mundial, o silêncio mortal, tudo

lembrava minha estação do ano favorita naquela hora deserta e amada do dia.

Era como se o verão estivesse para começar, como se as coisas ainda não

tivessem acontecido, minha cabeça ainda zumbindo com os estudos de última

hora antes das provas finais, era a primeira vez que eu avistava o mar naquele

ano. Oliver? Que Oliver? O trem parou por alguns segundos, cerca de cinco

passageiros desceram. Ouvi o estrondo habitual, seguido pelo sonoro ruído

hidráulico do motor. Então, tão facilmente quanto tinham parado, os vagões

saíram da estação, um a um, e se afastaram. Silêncio completo.

Fiquei um tempo embaixo da cobertura de madeira. Tudo ali, incluindo a

cabine na plataforma, exalava um odor forte de combustível, alcatrão, pintura

lascada e mijo.

Um melro-preto solitário, sentado em um dos pinheiros, cantou algumas

notas que foram imediatamente abafadas pelas cigarras.

Verão.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!