12.03.2020 Views

Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O tempo nos deixa sentimentais. Talvez, no fim, o tempo seja o motivo pelo

qual sofremos.

* * *

Quatro anos depois, de passagem pela cidade onde ele lecionava, fiz o

incomum. Decidi aparecer. Assisti à aula dele à tarde e, quando acabou,

enquanto ele guardava os livros e colocava umas folhas soltas em uma pasta,

fui até ele. Eu não pretendia obrigá-lo a adivinhar quem eu era, mas também

não ia facilitar as coisas.

Um aluno queria fazer uma pergunta. Então esperei minha vez. O aluno

enfim foi embora.

— Você não deve se lembrar de mim — comecei, enquanto ele estreitava os

olhos, tentando me reconhecer.

De repente, ficou distante, como se tomado pelo medo de que tivéssemos nos

conhecido em algum lugar do qual ele não queria ser lembrado. Assumiu um

olhar hesitante, irônico e questionador, um sorriso desconfortável e franzido,

como se ensaiasse para dizer Acho que você está me confundindo com outra

pessoa. Então, ficou paralisado.

— Meus Deus! Elio! Foi minha barba que o confundiu, disse ele. Então me

abraçou, deu vários tapinhas na minha cara peluda como se eu fosse ainda

mais jovem do que naquele verão tão distante. Ele me deu o abraço que não

foi capaz de dar naquela noite em que entrou em meu quarto para me contar

que ia se casar.

— Quantos anos se passaram? — Quinze. Contei ontem à noite a caminho

daqui. — Em seguida, acrescentei: — Não é verdade. Eu sempre soube.

— Quinze anos, então. Olha só para você! Escuta — acrescentou depois de

um instante —, venha tomar alguma coisa com a gente, jantar com a gente,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!