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mesmo banheiro juntos.
— Não dê descarga — falei. — Quero ver.
O que vi trouxe à tona a compaixão, por ele, por seu corpo, por sua vida, que
de repente parecia tão frágil e vulnerável.
— Nossos corpos não têm mais segredos agora — falei enquanto me sentava.
Ele tinha entrado na banheira e estava prestes a abrir o chuveiro.
— Quero que você veja o meu — pedi.
Ele fez mais do que isso, saiu, beijou minha boca e, massageando minha
barriga com a palma da mão, assistiu a tudo acontecer.
Eu não queria segredos, nem barreiras, nada entre nós. Mal sabia que, se
sentia prazer na franqueza completa que nos aproximava ainda mais a cada
vez que jurávamos que meu corpo é seu corpo, também era porque gostava
de reacender a pequena lanterna de vergonha ignorada.
Ela lançava um brilho esparso exatamente na parte de mim que preferia a
escuridão. A vergonha andava no rastro da intimidade imediata. A intimidade
poderia permanecer quando a obscenidade chegasse ao fim e nossos corpos
tivessem usado todos os truques? Não sei se fiz essa pergunta, assim como
não tenho certeza de que sou capaz de respondê-la hoje. Nossa intimidade era
paga com a moeda errada? Ou a intimidade é produto desejado
independentemente de onde é encontrada, como é adquirida, pelo que é
trocada — mercado negro, mercado cinza, taxada, não taxada, por debaixo da
mesa, sobre o balcão? Tudo o que eu sabia era que não tinha mais nada a
esconder dele.
Nunca tinha me sentido tão livre ou tão seguro.
Ficamos sozinhos por três dias, não conhecíamos ninguém na cidade,
podíamos ser o que quiséssemos, dizer qualquer coisa, fazer qualquer coisa.
Eu me sentia um prisioneiro de guerra que de repente é libertado por um