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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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Não, era melhor que ele não soubesse. Eu podia aceitar isso. Eu podia

sempre, sempre viver com isso. Nem mesmo me surpreendia a facilidade com

que eu aceitava essa alternativa.

* * *

E, no entanto, do nada, um momento de carinho surgia tão de repente entre

nós que as palavras que eu desejava dizer quase escorregavam dos meus

lábios. Momentos dignos do calção de banho verde, ainda que minha teoria

das cores tivesse sido claramente refutada, e eu já não esperasse gentileza nos

dias “azuis” ou ficasse mais cuidadoso em dias “vermelhos”.

A música era um assunto fácil entre nós, principalmente quando eu estava ao

piano. Ou quando ele pedia que eu tocasse algo como fulano ou sicrano. Ele

gostava das minhas combinações de dois, três e até quatro compositores

tocando a mesma peça, que depois era transcrita por mim. Um dia, Chiara

começou a cantarolar uma melodia conhecida e, de repente, já que estava

ventando e ninguém queria ir à praia e nem ficar lá fora, nossos amigos se

reuniram na sala em volta do piano enquanto eu improvisava uma variação de

Brahms da interpretação da peça de Mozart.

— Como você faz isso? — perguntou ele certa manhã deitado no paraíso.

— Às vezes a única maneira de entender um artista é se colocar no lugar dele,

estar dentro dele. Então todo o resto flui naturalmente.

Voltamos a falar sobre livros. Eu quase nunca falava sobre livros com

ninguém além do meu pai.

Ou falávamos sobre música, os filósofos pré-socráticos, sobre fazer faculdade

nos Estados Unidos.

Ou Vimini aparecia.

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