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Correspondia à época em que quase não estávamos nos falando. Até minha
mãe me chamou para conversar e sugeriu que eu fosse mais educado com
nosso kaiboy — eu andava entrando e saindo sem nem cumprimentar,
indelicado.
— Acho que ele está certo — disse Vimini.
Dei de ombros. Nunca havia encontrado contradições tão poderosas.
Era uma agonia, algo que parecia raiva estava surgindo dentro de mim.
Tentei acalmar a mente e pensar no pôr do sol diante de nós, como as pessoas
que estão prestes a passar por um polígrafo gostam de visualizar uma
paisagem serena e plácida para disfarçar sua agitação.
Mas também estava me obrigando a pensar em outras coisas porque não
queria tocar ou mesmo gastar qualquer pensamento que tivesse a ver com
aquela noite. Pode ser que ele diga não, pode ser até mesmo que decida ir
embora da nossa casa e, se pressionado, explicar por quê.
Eu só permitia que minha imaginação fosse até esse ponto.
Um pensamento terrível me ocorreu. E se, neste momento, entre alguns dos
amigos que tinha feito na cidade, ou entre as pessoas que insistiam em
convidá-lo para jantar, ele deixasse escapar, ou simplesmente sugerisse o que
tinha acontecido durante nosso passeio de bicicleta? No lugar dele, será que
eu seria capaz de manter segredo? Não.
Ainda assim, ele tinha sinalizado que aquilo que eu queria podia ser dado e
tirado com muita naturalidade, de modo que era possível se perguntar por que
seriam necessárias tanta tormenta e vergonha, uma vez que não era algo mais
complicado do que, digamos, comprar um maço de cigarros, passar o
baseado, ou parar tarde da noite diante de alguma das garotas atrás da
piazzetta e, depois de combinar um preço, subir por alguns minutos.
Quando voltei depois de nadar, ainda não havia nem sinal dele.