12.03.2020 Views

Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

pântano de autoaversão e não sabia como.

— Está se sentindo enjoado, não está? Mais uma vez dei de ombros.

— Eu sabia que não devíamos fazer isso. Eu sabia — repetiu ele. Pela

primeira vez na vida o vi balbuciar, ser tomado pela dúvida. — Devíamos ter

conversado.

— Talvez — falei.

De todas as coisas que eu poderia ter dito naquela manhã o insignificante

“talvez” era a mais cruel.

— Você odiou? Não, eu não tinha odiado mesmo. Mas o que sentia era pior

que ódio. Eu não queria lembrar, não queria pensar naquilo. Só queria deixar

de lado. Nunca aconteceu. Tentei e não deu certo para mim, agora eu queria

meu dinheiro de volta, rebobine o filme, me leve de volta ao momento em

que estava quase saindo descalço para a varanda, não vou dar mais nem um

passo, vou sentar, cismar e nunca vou saber… melhor discutir com meu

corpo do que sentir o que estava sentindo agora. Elio, Elio, nós avisamos, não

avisamos? Aqui estava eu em sua cama, sem me mexer por conta de um

senso exagerado de educação.

— Você pode ir dormir, se quiser — disse ele, talvez as palavras mais gentis

que já me disse, com a mão no meu ombro, enquanto eu, como Judas, dizia a

mim mesmo, Se ele soubesse. Se soubesse que eu queria estar a léguas e a

uma vida de distância dele.

Dei-lhe um abraço. Fechei os olhos.

— Você está olhando para mim — falei, com os olhos ainda fechados.

Eu gostava que olhassem para mim enquanto eu estava de olhos fechados.

Precisava que ele ficasse o mais distante possível para ter chance de me sentir

melhor e esquecer — mas precisava dele por perto caso as coisas ficassem

ainda piores e eu não tivesse com quem contar.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!