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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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— Triste — comentou.

— Sim, um pouco.

— Anche a me duole, também estou triste.

Evitei os olhos dele. Não queria incentivá-lo a dizer qualquer coisa nem ao

menos a tocar no assunto.

Minha mãe, quando cheguei, quis saber de tudo sobre a viagem. Eu disse que

não fizemos nada de especial, só visitamos o Capitólio, Villa Borghese, São

Clemente. Mas caminhamos muito pela cidade. Muitas fontes. Muitos lugares

estranhos à noite. Dois jantares.

— Jantares? — perguntou minha mãe com um eu não disse? triunfante e

discreto. — Com quem? — Pessoas.

— Que pessoas? — Escritores, editores, amigos do Oliver. Ficamos

acordados todas as noites.

— Você não tem nem dezoito anos e já leva la dolce vita — comentou

Mafalda em um tom ácido.

Minha mãe concordou.

— Arrumamos seu quarto como antes. Achamos que ia gostar de finalmente

tê-lo de volta.

Logo fiquei triste e enfurecido. Quem lhes dera esse direito? Com certeza

andaram bisbilhotando, juntas ou não.

Eu sempre soube que um dia teria meu quarto de volta. Mas esperava uma

transição mais lenta e duradoura para o modo como as coisas eram antes de

Oliver. Tinha me imaginado deitado na cama tentando reunir a coragem de ir

até o quarto dele. O que não previ era que Mafalda já teria trocado seus

lençóis — nossos lençóis. Por sorte, eu tinha pedido mais uma vez que ele me

desse a tal camisa esvoaçante naquela manhã, depois de garantir que a usasse

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