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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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— Por isso você queria passar aqui? — Com você.

Eu já tinha contado a história. Um jovem de bicicleta, três anos antes,

provavelmente durante as férias, entregador de compras ou garoto de recados,

veio por um caminho estreito com o avental, me encarando, eu encarando de

volta, sem sorrir, só um olhar apreensivo, até passar por mim. E então fiz o

que todos esperam que façamos nesses momentos. Esperei alguns segundos,

então virei. Ele fez exatamente a mesma coisa. Na minha família, não

falamos com estranhos. Ele, sim.

Virou a bicicleta e pedalou até me alcançar. Algumas palavras insignificantes

para jogar conversa fora. Como era natural para ele.

Perguntas, perguntas, perguntas — só para manter a conversa fluindo —, e eu

nem sequer tinha fôlego para responder “sim” ou “não”. Ele me

cumprimentou, mas era só uma desculpa para pegar minha mão.

Então colocou o braço em meu ombro e me puxou para perto, como se um de

nós tivesse contado uma piada que nos fez rir e nos aproximarmos. Eu queria

encontrá-lo em um cinema ali perto? Balancei a cabeça. Eu queria segui-lo

até a loja (o chefe provavelmente já teria ido embora a essa hora)? Fiz que

não de novo. Você é tímido? Assenti.

Isso tudo sem largar minha mão, apertando minha mão, apertando meu

ombro, passando a mão em minha nuca com um sorriso paternalista e

indulgente, como se já tivesse desistido, mas ainda não estivesse pronto para

admitir. Por que não?, seguia perguntando. Eu poderia ter aceitado,

facilmente, mas não aceitei.

— Recusei tantos convites. Nunca fui atrás de ninguém.

— Veio atrás de mim.

— Você deixou.

Via Frattina, via Borgognona, via Condotti, via delle Carrozze, della Croce,

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