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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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Mas ele já havia conquistado Mafalda antes, na terceira manhã, quando ela

perguntou se ele gostava de tomar suco no café da manhã e ele disse que sim.

Oliver devia estar esperando suco de laranja ou toranja, mas o que ela trouxe

foi um copo cheio e quase transbordando de um grosso suco de damasco. Ele

nunca tinha tomado suco de damasco. Mafalda ficou ali parada olhando para

ele, a bandeja encostada no avental, tentando ler sua reação quando ele

engoliu. Ele não disse nada de imediato. Então, provavelmente sem pensar,

fez um barulho com os lábios. Ela estava no paraíso. Minha mãe não

conseguia acreditar que pessoas que lecionavam em universidades

mundialmente conhecidas estalavam os lábios ao experimentar néctar de

damasco.

Daquele dia em diante, um copo esperava por ele todas as manhãs.

No fim das contas, além de nunca ter tomado suco de damasco na vida, ficou

perplexo ao descobrir que havia árvores de damasco, imagine só, no nosso

pomar. No fim da tarde, quando não tinha outros afazeres domésticos,

Mafalda pedia a ele que subisse uma escada com uma cesta e colhesse as

frutas que estavam quase coradas de vergonha, segundo ela. Ele fazia graça,

pegando uma fruta e perguntando, em italiano: — Esta aqui está corada de

vergonha? — Não — respondia ela. — Esta ainda é jovem. Não tem

vergonha.

Isso vem com a idade.

Nunca vou esquecer a visão que tinha da minha mesa quando ele subia a

pequena escada usando o calção de banho vermelho e demorava uma

eternidade para colher os damascos mais maduros. A caminho da cozinha —

cesta de vime, alpargatas, camisa esvoaçante, óleo bronzeador e tudo mais

—, ele jogava um damasco grande na minha direção e dizia: “Para você.”

Com o mesmo tom de quando jogava a bola de tênis do outro lado da quadra

e dizia: “Você saca.” É claro que ele não tinha ideia do que se passava pela

minha cabeça minutos antes, mas as faces redondas e firmes do damasco,

com a covinha no meio, me lembravam do movimento de seu corpo se

esticando até os galhos da árvore, aquela bunda firme e redonda replicando a

cor e o formato da fruta. Tocar o damasco era como tocá- lo. Ele nunca

saberia. Assim como as pessoas de quem compramos jornal, e com quem

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