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Mas ele já havia conquistado Mafalda antes, na terceira manhã, quando ela
perguntou se ele gostava de tomar suco no café da manhã e ele disse que sim.
Oliver devia estar esperando suco de laranja ou toranja, mas o que ela trouxe
foi um copo cheio e quase transbordando de um grosso suco de damasco. Ele
nunca tinha tomado suco de damasco. Mafalda ficou ali parada olhando para
ele, a bandeja encostada no avental, tentando ler sua reação quando ele
engoliu. Ele não disse nada de imediato. Então, provavelmente sem pensar,
fez um barulho com os lábios. Ela estava no paraíso. Minha mãe não
conseguia acreditar que pessoas que lecionavam em universidades
mundialmente conhecidas estalavam os lábios ao experimentar néctar de
damasco.
Daquele dia em diante, um copo esperava por ele todas as manhãs.
No fim das contas, além de nunca ter tomado suco de damasco na vida, ficou
perplexo ao descobrir que havia árvores de damasco, imagine só, no nosso
pomar. No fim da tarde, quando não tinha outros afazeres domésticos,
Mafalda pedia a ele que subisse uma escada com uma cesta e colhesse as
frutas que estavam quase coradas de vergonha, segundo ela. Ele fazia graça,
pegando uma fruta e perguntando, em italiano: — Esta aqui está corada de
vergonha? — Não — respondia ela. — Esta ainda é jovem. Não tem
vergonha.
Isso vem com a idade.
Nunca vou esquecer a visão que tinha da minha mesa quando ele subia a
pequena escada usando o calção de banho vermelho e demorava uma
eternidade para colher os damascos mais maduros. A caminho da cozinha —
cesta de vime, alpargatas, camisa esvoaçante, óleo bronzeador e tudo mais
—, ele jogava um damasco grande na minha direção e dizia: “Para você.”
Com o mesmo tom de quando jogava a bola de tênis do outro lado da quadra
e dizia: “Você saca.” É claro que ele não tinha ideia do que se passava pela
minha cabeça minutos antes, mas as faces redondas e firmes do damasco,
com a covinha no meio, me lembravam do movimento de seu corpo se
esticando até os galhos da árvore, aquela bunda firme e redonda replicando a
cor e o formato da fruta. Tocar o damasco era como tocá- lo. Ele nunca
saberia. Assim como as pessoas de quem compramos jornal, e com quem