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desanimado.
Eu ri, não do convite, mas da manobra. Ele entendeu imediatamente o motivo
do sorriso. E então riu de volta, quase de si mesmo, sabendo que, se desse
qualquer sinal de que sabia que eu tinha percebido sua artimanha, estaria
confirmando sua culpa, mas que recusá-la, após eu ter deixado claro que
havia percebido, o denunciaria ainda mais. Então ele sorriu para confessar
que fora pego em flagrante, mas também para demonstrar que tinha espírito
esportivo suficiente para assumir e ainda aproveitar uma ida ao cinema
comigo. A situação toda me animou.
Ou talvez o sorriso tenha sido sua maneira de pagar na mesma moeda, de
sugerir que, por mais que tivesse sido pego tentando simular casualidade,
também vira algo digno de riso em mim — a saber, o prazer secreto,
perspicaz e tortuoso que eu sentia ao descobrir tantas afinidades
imperceptíveis entre nós. Talvez não houvesse nada ali, talvez eu tenha
inventado tudo. Mas nós dois sabíamos o que o outro tinha visto. Naquela
noite, enquanto pedalamos juntos até o cinema, eu estava — e não fazia
questão de esconder — nas nuvens.
Então, astuto como era, ele não tinha mesmo entendido o significado por trás
do meu gesto de afastar bruscamente sua mão? Não percebeu que cedi ao seu
toque? Não soube que eu não queria que ele me soltasse? Não sentiu que
quando começou a me massagear, a incapacidade de relaxar foi meu último
refúgio, minha última defesa, meu último pretexto, que de forma alguma eu
tinha resistido, que minha resistência era falsa, que eu era incapaz de resistir,
que nunca quis resistir, independentemente do que ele fizesse ou pedisse?
Não soube, naquela tarde de domingo em que não havia ninguém na casa
além de nós e, sentado na cama o vi entrar no meu quarto e perguntar por que
eu não estava na praia com os outros, que, se eu me recusei a responder e só
dei de ombros diante de seu olhar foi apenas para não revelar que eu não
conseguia tomar fôlego para falar, porque se eu permitisse que qualquer som
saísse de minha boca talvez viesse uma confissão desesperada ou um soluçar
— um ou o outro? Nunca, desde a infância, tinham me tratado daquele jeito.
Alergia, falei. Eu também, respondeu ele. Devemos ter a mesma. Mais uma
vez, dei de ombros. Ele pegou meu velho urso de pelúcia, virou o rosto do
urso para si e sussurrou algo em seu ouvido. Então, virando o urso para mim