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Como meus pais não davam atenção a suas ausências, achei que seria mais
seguro nunca demonstrar que elas me causavam ansiedade.
Mencionava a ausência de Oliver só quando um deles perguntava por onde
ele andava; fingia estar tão surpreso quanto eles. Ah, é mesmo, faz tempo que
ele saiu. Não, não faço ideia. E também precisava ter cuidado para não
parecer surpreso demais, pois poderia soar falso e ia alertá-los quanto ao que
estava me consumindo. Eles reconheceriam a má-fé no ato. Eu ficava
surpreso por ainda não terem percebido.
Sempre diziam que eu me apegava demais às pessoas. Naquele verão, no
entanto, finalmente entendi o que eles queriam dizer com apegar demais.
Obviamente já tinha acontecido antes, e eles provavelmente haviam
percebido quando eu era novo demais para perceber por mim mesmo. Aquilo
disparou alarmes em suas vidas. Eles se preocupavam comigo. E eu sabia que
o sentimento não era infundado, só esperava que nunca soubessem o quanto
as coisas tinham avançado para além de suas preocupações comuns. Sabia
que não suspeitavam de nada, e isso me preocupava — ainda que eu não
quisesse que suspeitassem. Se eu não era mais transparente e agora conseguia
disfarçar parte tão considerável da minha vida, então finalmente estava a
salvo, deles e dele — mas a que preço? E eu queria mesmo estar a salvo de
qualquer pessoa? Não havia com quem conversar. Para quem eu poderia
contar? Mafalda? Ela iria embora. Minha tia? Provavelmente ela contaria
para todo mundo. Marzia, Chiara, meus amigos? Todos me abandonariam em
um segundo. Meus primos, quando viessem? Nunca. Meu pai era
extremamente liberal — mas e quanto a isso? Quem mais? Devia escrever
para algum dos meus professores? Consultar um médico? Dizer que
precisava de um psicólogo? Contar ao Oliver? Contar ao Oliver. Não posso
contar a mais ninguém, Oliver, então, sinto muito, mas vai ter que ser você…
* * *
Certa tarde, quando a casa estava totalmente vazia, fui até o quarto dele. Eu
sabia que ele não estava em casa. Abri o armário e, como aquele era meu
quarto quando não havia nenhum hóspede, fingi procurar alguma coisa que
tinha deixado em uma das gavetas. Eu planejava vasculhar seus papéis, mas,