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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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Como meus pais não davam atenção a suas ausências, achei que seria mais

seguro nunca demonstrar que elas me causavam ansiedade.

Mencionava a ausência de Oliver só quando um deles perguntava por onde

ele andava; fingia estar tão surpreso quanto eles. Ah, é mesmo, faz tempo que

ele saiu. Não, não faço ideia. E também precisava ter cuidado para não

parecer surpreso demais, pois poderia soar falso e ia alertá-los quanto ao que

estava me consumindo. Eles reconheceriam a má-fé no ato. Eu ficava

surpreso por ainda não terem percebido.

Sempre diziam que eu me apegava demais às pessoas. Naquele verão, no

entanto, finalmente entendi o que eles queriam dizer com apegar demais.

Obviamente já tinha acontecido antes, e eles provavelmente haviam

percebido quando eu era novo demais para perceber por mim mesmo. Aquilo

disparou alarmes em suas vidas. Eles se preocupavam comigo. E eu sabia que

o sentimento não era infundado, só esperava que nunca soubessem o quanto

as coisas tinham avançado para além de suas preocupações comuns. Sabia

que não suspeitavam de nada, e isso me preocupava — ainda que eu não

quisesse que suspeitassem. Se eu não era mais transparente e agora conseguia

disfarçar parte tão considerável da minha vida, então finalmente estava a

salvo, deles e dele — mas a que preço? E eu queria mesmo estar a salvo de

qualquer pessoa? Não havia com quem conversar. Para quem eu poderia

contar? Mafalda? Ela iria embora. Minha tia? Provavelmente ela contaria

para todo mundo. Marzia, Chiara, meus amigos? Todos me abandonariam em

um segundo. Meus primos, quando viessem? Nunca. Meu pai era

extremamente liberal — mas e quanto a isso? Quem mais? Devia escrever

para algum dos meus professores? Consultar um médico? Dizer que

precisava de um psicólogo? Contar ao Oliver? Contar ao Oliver. Não posso

contar a mais ninguém, Oliver, então, sinto muito, mas vai ter que ser você…

* * *

Certa tarde, quando a casa estava totalmente vazia, fui até o quarto dele. Eu

sabia que ele não estava em casa. Abri o armário e, como aquele era meu

quarto quando não havia nenhum hóspede, fingi procurar alguma coisa que

tinha deixado em uma das gavetas. Eu planejava vasculhar seus papéis, mas,

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