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a perspectiva de que elas poderiam morrer. Fomos a Roma com o mesmo
espírito de evasão: Roma seria um último gozo antes que a escola e a viagem
nos separassem, um jeito de adiar as coisas e estender a festa muito além da
hora de seu fim. Talvez, sem pensar, aquilo fosse mais do que férias breves;
estávamos fugindo juntos com passagens de volta para destinos diferentes.
Talvez fosse um presente para mim.
Talvez fosse um presente do meu pai para nós dois.
Eu seria capaz de viver sem sua mão na minha barriga? Sem o pêssego? Sem
beijar e lamber uma ferida em sua cintura que ainda levaria semanas para
sarar, mas longe de mim? A quem mais eu poderia chamar pelo meu nome?
Viriam outros, é claro, e outros depois dos outros, mas chamar alguém pelo
meu nome em um momento de paixão seria uma emoção derivada, uma
simulação.
Eu me lembrei do armário vazio e da mala feita ao lado de sua cama.
Meu irmão ficaria com meu quarto e eu dormiria no de Oliver.
Dormiria com sua camisa, deitaria com ela ao meu lado, usaria como pijama.
Depois da leitura, mais aplausos, mais sociabilidade, mais bebidas.
Logo estaria na hora de fechar a loja. Eu me lembrei de Marzia quando a
livraria em B. estava fechando. Tão distante, tão diferente. Como Marzia
tinha se tornado tão irreal...
Alguém disse que deveríamos sair para jantar todos juntos. Éramos mais ou
menos trinta. Outra pessoa sugeriu um restaurante com vista para o lago
Albano. Um restaurante com vista para a noite estrelada e para o lago surgiu
na minha mente como algo saído de um livro ilustrado do fim da Idade
Média. Não, muito longe, disse alguém. Sim, mas as luzes no lago à noite…!
As luzes no lago à noite terão que ficar para outro dia. Por que não algum
lugar na via Cassia? Sim, mas não resolvia o problema dos carros: não havia
lugar para todos. Claro que havia carros suficientes, e se tivéssemos que