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para mim tão intensamente que pensei que mesmo uma transa não chegaria a
esse ponto.
— Se você quiser cuspir não tem problema, não mesmo, eu prometo, não vou
ficar ofendido — falei mais para quebrar o silêncio do que como uma última
súplica.
Ele balançou a cabeça. Soube que ele estava sentindo o gosto naquele exato
momento. Algo meu estava em sua boca, mais dele do que meu agora. Não
sei o que aconteceu comigo naquele momento enquanto eu o observava, mas
de repente senti uma vontade incontrolável de chorar.
E, em vez de tentar lutar contra, como fizera em relação ao orgasmo, eu
simplesmente me soltei, como se também quisesse mostrar algo íntimo meu.
Eu me aproximei e abafei meu choro em seu ombro. Estava chorando porque
nenhum estranho jamais foi tão gentil ou tão longe por mim, nem Anchise
que uma vez abriu meu pé para chupar e cuspir o veneno de um escorpião. Eu
estava chorando porque nunca conheci tamanha gratidão e não tinha outro
jeito de demonstrar isso. E estava chorando pelos pensamentos horríveis que
alimentei contra ele naquela manhã. E pela noite anterior também, porque,
querendo ou não, eu nunca mais poderia voltar atrás, e era um bom momento
para mostrar que ele estava certo, que não era fácil, que a diversão tinha seus
meios de sair dos eixos e que se tínhamos apressado as coisas era tarde
demais para dar um passo atrás… chorando porque algo estava acontecendo,
e eu não tinha ideia do que era.
— Independentemente do que aconteça entre nós, Elio, quero que você saiba.
Nunca diga que você não sabia.
Ele ainda estava mastigando. No calor da paixão seria uma coisa.
Mas aquilo ali era outra bem diferente. Ele estava me levando consigo.
As palavras dele não faziam o menor sentido. Mas eu sabia exatamente o que
queriam dizer.
— Esse é meu jeito de demonstrar. Melhor isso do que palavras. De todas as